Por: Sofia Mayer*
Após sete dias de internação no Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, o garoto Abrahaão Evangelista Barbosa, de 10 anos, voltou para casa, em Palhoça, agradecendo os esforços dos profissionais que o acolheram. O morador do bairro Caminho Novo foi diagnosticado com uma síndrome inflamatória multissistêmica rara, que vem sendo registrada em crianças e adolescentes que contraíram a Covid-19, e precisou passar quatro dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Caçula de quatro irmãos, ele foi o único da casa a ser contaminado pelo novo coronavírus. De acordo com a mãe, Dulcilene Evangelista de Campos dos Santos, como Abrahaão esteve assintomático durante a fase de transmissão do vírus, uma certa sensação de tranquilidade havia sido criada. Depois de pouco mais de duas semanas, porém, febre de 39 graus, vômito e dor nas pernas começaram a aparecer. “Levei na UPA, pois ficou bem intenso e forte. Aí já estava com o rosto com manchas vermelhas nas pernas e nos braços”, a mãe conta.
Os exames revelaram que o fígado e a urina estavam apresentando alterações graves, e os dois foram orientados a buscar o Hospital Infantil Joana de Gusmão. “Na emergência, no primeiro atendimento, a médica disse que ele tinha que fechar o ciclo de tempo para saber se era Covid, e voltamos para a casa”, comenta. Na mesma noite, contudo, após os sintomas piorarem, precisaram retornar. “Febre altíssima, olhos vermelhos, falta de ar, dor insuportável no abdômen. Então, voltamos. Fez exames e já ficou internado. Foi pra UTI”, lembra Dulcilene.
Diagnóstico
Por se tratar de uma síndrome rara e ainda pouco conhecida, em um primeiro momento houve uma série de dúvidas para realizar com precisão o diagnóstico. “Suspeitaram que era dengue, virose e até leptospirose”, revela a mãe. Depois de uma série de exames, como o ecocardiograma, descobriram que se tratava, na verdade, de uma complicação rara e grave da Covid-19, que tem acometido crianças e, principalmente, adolescentes que tiveram contato com a doença.
A síndrome inflamatória multissistêmica foi relatada, pela primeira vez, no final de abril pela Sociedade de Pediatria do Reino Unido. Os pacientes, em geral, são identificados com febre alta e persistente, manchas e irritações na pele, conjuntivite, inchaços nas mãos e nos pés e dor abdominal e vômito. De acordo com informações colhidas até o momento, a maioria dos casos não apresenta sintomas respiratórios graves. Indivíduos considerados saudáveis também podem sofrer complicações.
Momentos de tensão
Mesmo diante das incertezas de uma síndrome rara, um acalento para a mãe foi conseguir ficar, desde o momento da internação, junto de Abrahaão. Para aguentar os dias, permeados de tensão e dúvidas, ela conta que precisou ter fé. “Quando falaram que ele iria pra UTI, chorei muito, pois vi o meu filho desfalecendo. Pensei que iria perdê-lo, foi muito forte para mim. Mas sempre pedia a Deus, e sabia que os médicos e enfermeiros faziam o melhor. E assim foi”, comemora.
Recomeço
O garoto teve alta na segunda-feira (10), depois de sete dias de internação no Hospital Infantil Joana de Gusmão. Agora, um dos desejos de Abrahaão é que a população leve a pandemia da Covid-19 com seriedade. “Vamos nos prevenir, porque a doença está séria, não é para brincadeira. Eu estou aqui porque recebi um cuidado médico muito bom, e se não fosse por eles, eu não estaria de volta em casa”, aponta.
Já a mãe, Dulcilene, está aliviada por ter o filho novamente nos braços: “O Abrahaão está bem, muito feliz, pois chorava que queria ir pra casa ver os irmãos. Graças a Deus e aos médicos, ele está bem”. O garoto segue tendo o quadro de saúde monitorado.
De acordo com o governo de Santa Catarina, Abrahaão é o segundo paciente com a síndrome a receber alta no Hospital Infantil da Capital.
* Sob a supervisão de Luciano Smanioto
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