Por: Sofia Mayer*
Diante do aumento exponencial de casos de Covid-19 em Palhoça nas últimas semanas (o município apresentou, segundo o relatório mais recente da Vigilância Epidemiológica, 823 casos da doença desde o início da pandemia, e cinco óbitos), parte da população tem demonstrado preocupação. Há questionamentos sobre os protocolos seguidos em instituições públicas e empresas privadas, e até um apelo de uma comunidade para que as pessoas reforcem as medidas de segurança.
No Passa Vinte, leitores do Palhocense questionam a posição de dirigentes do Fort Atacadista: a empresa confirma que um colaborador foi infectado pelo novo coronavírus e que adotou as medidas recomendadas pelas autoridades de saúde, mas outros colaboradores falam em desinformação e asseguram que há mais infectados na empresa.
De acordo com os relatos, que vieram a público nesta semana, colaboradores que estiveram em contato direto com infectados não estão sendo informados sobre os diagnósticos dos colegas, aumentando a preocupação em relação a um cenário de contaminação em massa. Pelo menos quatro casos já teriam sido confirmados no últimos dias, segundo as informações obtidas pela reportagem, mas a empresa confirma apenas um caso.
Funcionários entendem que os testes para identificar a Covid-19 deveriam ser estendidos àqueles que tiveram contato com sintomáticos. A ideia é que essas pessoas também possam ser submetidas a isolamento domiciliar, caso se verifique a presença do vírus. A Prefeitura informa, por outro lado, que o protocolo sanitário, em qualquer ocasião, é afastar e examinar apenas pessoas que apresentem sintomas, além de monitorar todos os suspeitos.
Uma colaboradora, que prefere não ser identificada, revela que poucos funcionários tomam conhecimento dos casos ativos no estabelecimento: “A empresa está deixando em ‘off’ para não vazar”. De acordo com a profissional, os dirigentes chegaram a contratar uma empresa privada para realizar a higienização do local, a fim de burlar as ações da Vigilância Sanitária. Sem o conhecimento das autoridades de saúde, porém, não há realização de exames em massa.
Na farmácia do Fort, anexa ao supermercado, a sensação de insegurança também aumentou depois que duas profissionais testaram positivo para a Covid-19. “O estabelecimento é pequeno, e estão com medo da contaminação e exposição que já tiveram com as colegas que estão afastadas”, comenta uma trabalhadora. Ela afirma que já tentou denunciar a situação às autoridades de saúde: “Eles não sabem o que fazer e o que informar”. A empregada conta que foi orientada pela Prefeitura a realizar a denúncia por escrito, através da ouvidoria. O município disponibiliza uma central para tratar de casos do novo coronavírus.
A leitora explica que, embora a sensação predominante seja de medo, os funcionários evitam contestar o cenário de contaminação, para não perderem os empregos: “A situação é difícil, e também expõe ao contágio os clientes”. Ela informa que, na área destinada ao supermercado, há pelo menos dois casos confirmados do novo coronavírus, embora o número exato seja desconhecido: “Muitas pessoas não estão indo trabalhar”.
Contraponto do Fort
Questionado sobre a situação, o Fort Atacadista informou que afasta todos os profissionais sintomáticos ou com suspeitas de Covid-19, ficando em isolamento domiciliar até que haja confirmação do quadro clínico.
Em nota, a empresa confirmou que, no dia 22 de junho, uma colaboradora da unidade no bairro Passa Vinte, em Palhoça, testou positivo para a doença. Ainda informou que, seguindo o protocolo padrão, ela já havia já havia sido afastada da empresa e estava em quarentena desde o dia 5 de junho, em função de apresentar sintomas. No dia em que o exame atestou positivo para o novo coronavírus, uma sanitização completa foi feita em toda a loja, seguindo as recomendações da Vigilância Sanitária.
Covid-19 em escolas e CEIs
Depois que o Palhocense publicou, no começo de junho, denúncias de funcionários infectados pela Covid-19 no abrigo Casa Lar, novas confirmações em instituições do município passaram a preocupar servidores. Nem mesmo os Centros de Educação Infantil (CEI) e as escolas municipais, que estão com as aulas presenciais suspensas desde março, ficaram de fora do avanço da doença em território palhocense.
De acordo com uma leitora, como profissionais da coordenação, de serviços gerais e merendeiras continuam trabalhando presencialmente, há casos de contaminação mesmo com quadro de funcionários reduzido. Segundo ela, porém, a limpeza e desinfecção dos locais não estariam sendo realizadas.
Agentes de saúde da Prefeitura confirmam que houve funcionários de CEIs e escolas testando positivo para o novo coronavírus, mas garantem que os espaços físicos estão sendo higienizados, e que todos os suspeitos foram conduzidos ao isolamento domiciliar, enquanto aguardam o resultado dos exames.
Na escola Antonieta Silveira de Souza, por exemplo, uma professora apresentou sintomas um dia após comparecer ao local, em 23 de junho. “Ela ficou doente e procurou os serviços de saúde, que a levantaram como suspeita. Fizeram um teste e colocaram ela em isolamento”, informa a Prefeitura.
O município revelou que a escola será fechada por dois dias para procedimentos de sanitização. Em outros casos, a higienização com solução de hipoclorito de sódio só poderia ser feita quando há notificação de surto da doença pela Vigilância Epidemiológica. Como as unidades de ensino estão sem aulas presenciais, porém, o protocolo sanitário é diferenciado, segundo a Prefeitura, e prevê que os espaços sejam fechados para desinfecção.
A situação da Escola de Educação Básica (EEB) Governador Ivo Silveira, no Centro de Palhoça, é parecida. Em nota, a gestão escolar informou que a instituição estará de quarentena até dia 10 de julho, em virtude da circulação de um professor com Covid-19 no estacionamento da unidade. Até o final desse período, não haverá entrega de materiais pedagógicos. De acordo com o diretor, Adriano Cúrcio, o docente contaminado esteve apenas na área externa do edifício, mas ainda assim decidiu informar a situação à comunidade, como medida de transparência. O colégio comunicou que segue as orientações da Vigilância Sanitária do município e da Secretaria Estadual de Educação (a escola é estadual), e que um processo de limpeza e desinfecção foi realizado nas dependências do prédio.
Além de testar todos os suspeitos, a Prefeitura informa que a Vigilância Epidemiológica, juntamente com a Polícia Civil e a Vigilância Sanitária, monitoram o local de trabalho e de moradia dos suspeitos, a fim de confirmar se estão cumprindo o período de isolamento social determinado.
Mobilização de católicos no Bela Vista
De olho na expansão da Covid-19 em diferentes espaços, sobretudo no Bela Vista, membros da Igreja Católica do bairro, a São José Operário, estão unindo forças com a comunidade para conscientizar munícipes sobre os riscos e medidas de prevenção da doença. De acordo com José Neto, o popular Zezinho, um dos idealizadores do projeto, a iniciativa tem caráter urgente: “Nós estamos nos mobilizando pelo número de casos que está tendo em nosso bairro, e por muitas pessoas estarem andando sem máscara”.
Ele conta que as atividades de conscientização acontecem por meio de grupos no WhatsApp. “E quando vemos alguém sem máscara, com caridade falamos da importância de usar”, completa. Segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Prefeitura na quarta-feira (1), o Bela Vista liderava a lista de casos do novo coronavírus em Palhoça, com 87 confirmações - este número pode ter aumentado, já que de quarta para quinta (2) houve a identificação de 81 novos casos em Palhoça, mas a estatística por bairro não havia sido atualizada pela Secretaria de Saúde até a publicação desta matéria.
* Sob a supervisão de Luciano Smanioto
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