Barricadas e queima de pneus e de um carro abandonado chamaram atenção no início desta semana no final da rua Pascoal Mazzilli, na ocupação Nova Esperança da comunidade Frei Damião. Da última segunda (6), até a terça pela manhã, moradores fecharam a ponte do Brejaru, permitindo o acesso apenas para quem passasse a pé. A polícia foi ao local, o Bope e o Choque foram acionados, e o clima de tensão ficou grande. Um manifestante chegou a ser preso, segundo a PM, por ter atirado um foguete contra uma viatura. Após um dia de negociações e esclarecimentos com a polícia e a Prefeitura a situação foi contornada. Na manhã de terça, os moradores liberaram as vias, que foram limpas na parte da tarde.
O presidente da associação dos moradores do Frei Damião, Vladimir Ribeiro, diz que o tumulto começou a partir de uma suspeita de desocupação da área: “Alguém passou na Prefeitura e disse que estava cheio de máquinas. Jogaram no grupo dos moradores e deu aquela correria”. Por volta do meio-dia, a PM recebeu a chamada de que a rua estava fechada e foi ao local. Na negociação, os policiais esclareceram que não tinham mandado de desocupação e argumentaram que se houvesse uma operação nesse sentido ela seria muito maior: “A polícia traz segurança para quem participa da operação e para quem mora no local. Se fosse o caso, haveria um efetivo muito maior e com assistência social”.
A pedido dos moradores, um representante da Prefeitura também esteve no local para confirmar que não haveria desocupação. Houve ainda um avanço nos protestos e foi ateado fogo em um veículo. À noite a polícia se retirou do local para evitar confrontos, e na manhã de terça (7), a situação foi apaziguada. “A gente entende a situação das pessoas que estão nesta condição de vida e de moradia, mas não pode deixar que se feche uma via e cause tumulto sem justificativa”, explica o major.
Ocupação Nova Esperança
A preocupação dos moradores remete a uma polêmica antiga. No ano passado, nesta mesma época, a Secretaria de Segurança Pública de Palhoça chegou a solicitar a desocupação do local, com argumentos de que poderia haver ali integrantes ou simpatizantes de facções criminosas. O local é terreno de propriedade privada e a Prefeitura recuou da ação. Os moradores relatam que a região estava abandonada há mais de 10 anos, em péssimo estado e que era usada inclusive como local de desova de corpos. Com o desejo de melhorar de vida, algumas famílias limparam e aterraram o local e desde novembro de 2017 a ocupação vem crescendo.
Segundo Vladimir, na área de 46 mil metros quadrados residem hoje 301 famílias e 90% delas sobrevivem de reciclagem. Ele conta que os terrenos pertencem a 12 herdeiros e alguns casos hoje estão na Justiça buscando regularização. Um dos problemas enfrentados é que proprietários estariam com o IPR (Imposto de Propriedade Rural) atrasado por muitos anos.
Sobre a segurança da região, o sub-comandante da PM de Palhoça acrescenta que nos últimos meses as situações de conflito em combate à criminalidade no local estão abaixo da média: “Fora este episódio de agora, o Frei Damião está tranquilo. Em janeiro tivemos situações com disparos de arma de fogo, mas em fevereiro, março e abril não houve praticamente ocorrência nenhuma”.