Por: Sofia Mayer*
O Morro do Cambirela foi palco de uma série de acontecimentos atípicos no início desta semana. No mesmo domingo (26) em que um incêndio castigou a vegetação do topo da montanha, três adolescentes se perderam de um grupo de cerca de 16 pessoas, na descida das trilhas, depois de uma noite de acampamento entre amigos. Os meninos, com idades entre 13 e 18 anos, foram resgatados pelo Corpo de Bombeiros, com ajuda de montanhistas, no início da tarde desta terça-feira (28).
Familiares afirmam que os jovens teriam se deslocado ao Cambirela no sábado (25), e pretendiam voltar no dia seguinte. Porém, com a fumaça crescendo, consequência do incêndio que comprometeu a área no domingo, os três adolescentes se separaram do resto de grupo e acabaram se perdendo no regresso. A mãe de um dos jovens conta que, a princípio, não sabia onde o filho estava: “Domingo à tarde, já comecei a procurar nos amigos, até que descobri que ele estava lá”.
Um amigo conta que auxiliou os bombeiros no primeiro dia de buscas, na noite de segunda-feira (27). Segundo ele, os grupos se dividiram entre as três trilhas possíveis: enquanto ele subiu - junto com trilheiros experientes, a família e amigos - pelos dois caminhos principais, que davam para o cume da montanha, os bombeiros percorreram a trilha de acesso mais difícil. “Quando chegamos quase no topo do morro, onde tínhamos combinado de nos encontrar, achamos melhor retornar”, lembra. O colega afirma ainda, que todo o percurso foi monitorado pelos profissionais, via GPS.
Quem também subiu o Cambirela, na segunda, para participar das buscas foi a mãe de um dos adolescentes, de 17 anos. “Nunca achei que conseguiria subir aquela montanha, muito menos passar por tantas situações que passei naquela noite. Mas, por meu filho, enfrentei”, recorda, com orgulho.
Na manhã de terça-feira (28), as buscas recomeçaram com a ajuda de cinco bombeiros do Grupamento de Busca e Salvamento (GBS), oito bombeiros do quartel de Palhoça, um soldado e o cão farejador Marley, do 10º Batalhão de Bombeiros Militar - todos divididos entre duas equipes. Os bombeiros contaram com o apoio de trilheiros e montanhistas que conhecem bem a área. Um deles, o palhocense Maicon Celso de Souza, foi quem encontrou o trio.
Desde que ficou sabendo sobre o incêndio, Maicon manteve contato com os bombeiros para saber se precisariam de ajuda para o controle das chamas ou para ajudar alguém que estivesse nas trilhas do Cambirela. “Na tarde de segunda, eu subi a montanha para ver a situação e passar para os aventureiros da região um pedido de que não fossem para o Cambirela nos próximos meses, para que ela volte a se recompor sozinha. Quando desci, encontrei os bombeiros que iriam iniciar as buscas pelos três rapazes (eles haviam recebido a ocorrência na tarde de segunda) e desde então mantive contato com eles”, relembra. De segunda para terça, muitas pessoas nas redes sociais deram informações sobre os três garotos: onde haviam sido vistos pela última vez, como estavam, o que carregavam, se eram preparados ou não para encarar os desafios da montanha. As informações eram repassadas diretamente para os bombeiros e Maicon opinava sobre possíveis locais onde eles poderiam estar. “Como conheço bem aquela região, tirei de base isso. Aí, na manhã de terça, já em contato com os bombeiros novamente, vi que ainda não haviam conseguido localizá-los, então, avisei para os bombeiros que estaria indo lá para ajudar nas buscas. Iniciei a subida pela cachoeira do Jarrão por volta das 11h50, e lá peguei um acesso que vai até o Morro do Cambirela, que era onde eu achava que eles poderiam ter se perdido, e por volta de 12h30 os localizei”, relata. “Eles estavam bem, haviam acabado de achar um abrigo de caçadores ali na mata (o qual já foi repassado ao chefe do parque para a demolição). Segundo relato deles, naquela hora eles tinham chegado ali há uns 30 minutos, e achado comida no abrigo e estavam fazendo. Eles achavam que já era em torno de 17h. Como estava chovendo e com muita neblina na montanha, dentro da mata se torna escuro. Aí verifiquei se estavam bem e nisso consegui contato com os bombeiros, alertando que já havia achado e estávamos descendo, e fomos ao encontro da equipe, que fez todas as avaliações para ver se eles estavam bem”, descreve Maicon.
Segundo o grupo de resgate, os garotos estavam conscientes e sem sinais de desidratação. O procedimento de resgate foi todo feito, exclusivamente, por via terrestre. A mãe do adolescente de 17 anos conta que, embora esteja saudável, o menino ainda está amedrontado com a situação. “Ficaram assustados quando viram a fumaça. Foi quando se perderam uns dos outros”, revela a mãe.
Em nota, o Corpo de Bombeiros explicou que, por conta do incêndio de domingo ter acontecido na mesma região, os adolescentes e familiares foram encaminhados para prestar esclarecimentos à Polícia Civil de Santa Catarina. A alegação do órgão é a de que os jovens poderiam ser testemunhas, caso tivessem visto algo que contribua no processo de investigação.
Trilhas seguem proibidas
Com base no decreto do Governo de Santa Catarina, que apresenta medidas restritivas em função do combate à Covid-19, trilhas e a permanência em parques ainda não estão permitidas no estado.
* Sob a coordenação e com a colaboração de Luciano Smanioto
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