A Biblioteca Pública Municipal Guilherme Wiethorn Filho vai novamente mudar de endereço. Já são mais de 10 mudanças ao longo da sua história. Desde 2011, as instalações funcionam em uma sala ampla no andar térreo do Edifício Gustavo Kirchner, em uma área central da cidade, na avenida Prefeito Nelson Martins. Agora, será relocada para o prédio da Faculdade Municipal de Palhoça (FMP), na Ponte do Imaruim. Uma decisão que não agradou nem um pouco os usuários. A União Palhocense de Estudantes Secundaristas (Upes) está se mobilizando para pressionar a Prefeitura a desistir da ideia.
O principal motivo alegado pela Prefeitura para determinar a mudança é a economia, porque o atual espaço é alugado. Uma situação que se repete a cada ano, nesta mesma época, em que o contrato de locação costumava ser renovado. No ano passado, chegou a ser divulgada a informação de que o aluguel teria sido renovado por quatro anos. O que deixou usuários e profissionais que trabalham na biblioteca aliviados. Mas o alívio não resistiu mais do que uma única temporada.
Na terça-feira, o Palhocense esteve na biblioteca e presenciou a visita da professora Soraya Limaco e de uma bibliotecária que acabou de ser contratada pela Prefeitura (iniciou no cargo esta semana). As duas foram encarregadas de coordenar a transição para o prédio da FMP e estavam colhendo informações sobre o material que será reacomodado na Ponte do Imaruim. Um lugar longe do Centro, o que não é o ideal, em se tratando de uma biblioteca pública municipal. “É uma coisa que não faz sentido, você vai tirar uma biblioteca pública de uma área central e colocar dentro de um espaço escolar, que é uma faculdade, que atende aquele ambiente ali. Biblioteca pública num bairro descaracteriza, ela passa a ser de um bairro, e não da cidade. Ela tem que estar central, para que todos os bairros possam acessar”, reflete a bibliotecária Erli Paulo, responsável pela biblioteca.
O prazo definitivo para a desocupação do espaço atual é o final de abril. Até lá, usuários e estudantes esperam reverter a situação. “A biblioteca onde está, consegue pegar bairros como Laranjeiras, Barra do Aririú, Caminho Novo, Bela Vista, Guarda do Cubatão, pega todas essas comunidades, porque é no Centro, é mais acessível. Lá na Ponte do Imaruim, só quem vai conseguir acessar é quem está naquela comunidade ou é estudante da universidade”, pondera Sara Oliveira, diretora acadêmica da Upes. “Vejo como uma porta sendo fechada para essa biblioteca”, acrescenta.
A Upes estava atuando em parceria com a coordenação da biblioteca municipal para oferecer atividades à comunidade dentro daquele espaço. Era mais uma ação dentro do Projeto Conecta Biblioteca, que tem o patrocínio da Fundação Bill & Melinda Gates, criada pelo todo poderoso da Microsoft, Bill Gates, e sua esposa, Melinda. Outras ações estavam em fase de implementação. Agora, tudo fica suspenso. A biblioteca palhocense pode até perder a oportunidade de seguir abrigada pelo projeto do magnata dos softwares. “E agora, como é que eu faço? A gente vai parar tudo, vai desistir do programa? Está uma situação bem delicada”, lamenta Erli.
No próximo dia 28, Dia Nacional de Luta dos Estudantes Brasileiros, a Upes estava se preparando para realizar atividades na biblioteca. “Agora, com essa notícia, a gente não sabe pra onde vai”, lamenta Sara. Ela avisa que os estudantes vão lutar pela manutenção daquele espaço. “Se o prefeito acha que não tem ninguém vendo a biblioteca, ele está se enganando. Está todo mundo vendo a biblioteca e querendo lutar por ela”, adverte.
Nota de repúdio
"A União Palhocense dos Estudantes Secundaristas (Upes), juntamente com a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e o Grêmio Estudantil do Colégio Governador Ivo Silveira de Palhoça vem a público externar sua indignação quanto à atual situação da Biblioteca Pública Municipal Guilherme Wiethorn Filho.
Desde meados do ano passado, o público usuário e os funcionários sentem uma insegurança causada pela possibilidade de fechamento da biblioteca. Tal como está hoje, a biblioteca atende múltiplos bairros e comunidades, pois se localiza no Centro do município, trazendo a acessibilidade e dispondo ao publico usuário o espaço para livre manifestação como grupos de estudos e debates.
Todavia, a Prefeitura transferirá novamente a sede da Biblioteca Municipal, desta vez para o espaço físico da Faculdade Municipal de Palhoça. Segundo informações obtidas, o principal argumento exposto pelo prefeito Camilo Martins para a mudança da instituição é o de diminuir despesas como o corte de aluguéis. Vale esclarecer que levar a Biblioteca Municipal para um ambiente escolar não só restringe o acesso de indivíduos de outros bairros e comunidades como também descaracteriza a própria ideia de municipalidade que a instituição deve ter. De forma que, para além do equívoco de juntar num mesmo espaço duas bibliotecas de caráter distintos, ainda dificulta o acesso dos usuários, que dificilmente continuarão a frequentá-la.
Vale lembrar que a Biblioteca Municipal é participante do Projeto Conecta Biblioteca desde 2017, e ouviu a comunidade através de duas pesquisas com usuários e não usuários da instituição, com o objetivo de conhecer a opinião da comunidade sobre a biblioteca e seus serviços. Agora, pretende lançar uma nova programação com base nos resultados da pesquisa e com a participação dos jovens da comunidade.
Logo, restam os questionamentos: como ficarão os projetos, as oficinas e o atendimento ao público usuário?”