As baleias francas chegaram mais cedo ao nosso litoral este ano. Na última quinta-feira (5), o técnico de surfe Piu Pereira estava filmando o desempenho da pupila Rafaela Coelho nas ondas da Pinheira quando avistou duas baleias a uma curta distância da área onde a jovem surfista treinava.
“Eu estava filmando a Rafa treinando, no meio da Pinheira, e quando ela saiu da água, a gente viu bem na frente. Eu fiquei mais um pouco ali, vendo onde ela ia, tentando fazer as imagens. Deu pra ver que tinha mais de uma”, relembra o surfista. “Foi bem legal, nunca tinha visto ali no meio da Pinheira, tinha visto em Garopaba, Imbituba, mas ali não tinha visto. Foi bem legal, elas ficaram um tempão ali no meio da praia. Quando filmei, elas estavam um pouco mais pra direita de onde a Rafa estava surfando, mas elas estavam bem próximas de onde ela estava surfando”, recorda Piu Pereira.
A redação do Palhocense mostrou o vídeo para a diretora de pesquisa do Instituto Australis/Projeto Baleia Franca, Karina Groch. “Dá pra ver que é uma baleia franca com filhote, interagindo! No início do vídeo, o filhote deu um salto”, observa a pesquisadora.
A baleia franca migra para o Litoral Sul do Brasil para ter filhotes e acasalar. A temporada reprodutiva da espécie vai de julho a novembro, com pico de ocorrências em setembro, mas este ano elas chegaram mais cedo. “No dia 15 de junho começaram as primeiras informações confirmadas em Santa Catarina, e desde então todos os dias temos tido avistagens pela região”, conta Karina. “A temporada reprodutiva da espécie inicia com a chegada das primeiras baleias, mas a maioria dos indivíduos começam a permanecer nas enseadas a partir da segunda quinzena de julho, sendo as avistagens iniciais geralmente tratando-se de fêmeas grávidas à procura de enseadas para parir seus filhotes, que passam a permanecer mais tempo nas enseadas após o nascimento do filhote”, acrescenta.
A pesquisadora acredita que a chegada antecipada das baleias-franca ao Brasil este ano pode ser um bom sinal. “Um estudo conduzido por nós, em parceria com a Universidade de Rio Grande, apontou que alterações climáticas globais podem estar influenciando o sucesso reprodutivo das baleias-franca no Brasil, por isso observamos flutuações na ocorrência da espécie. Estamos iniciando o monitoramento das baleias-franca a partir de terra e até agosto teremos equipes de monitoramento em pelo menos nove pontos de observação. Será realizado o monitoramento das praias localizadas na região central da APABF, e as informações sobre avistagens serão divulgadas nas nossas redes sociais e no mapa de avistagens no site”, informa.
Além do monitoramento das praias, a instituição também vai realizar outros dois projetos de pesquisa. Um é relacionado ao uso de drones para verificar como ocorre o uso das enseadas pelas baleias, através de fotoidentificação. “Com as imagens aéreas do drone, verificamos se são as mesmas baleias que estão nas enseadas, quanto tempo permanecem naquele local”, explica Karina. “Já começamos esse estudo, com a identificação da primeira mãe com filhote que chegou na região. A mãe é uma baleia conhecida nossa desde 2006, e recebeu o número B429 no nosso catálogo. O filhote dela, que nasceu esta temporada, tem uma mancha branca no dorso que lembra a letra ‘i’, e era aniversário de Imbituba (no dia que filmamos esse filhote, dia 21), decidimos ‘batizar’ o filhote de Imbituba, e sua mãe, de Zimba, em homenagem à cidade, que é a capital nacional da baleia franca. Pretendemos monitorar a região e verificar quanto tempo Zimba e Imbituba vão permanecer na região”, destaca.
O outro projeto será uma pesquisa sobre o comportamento vocal (bioacústica) das baleias que visitam a região, dando continuidade a outra pesquisa iniciada em 2011.
Desde 2015, o Instituto Australis é a instituição mantenedora do Programa de Pesquisa em Conservação da Baleia Franca (Projeto Baleia Franca).
Veja o vídeo com a mãe e o filhote de baleia!