Depois de mais de 15 horas de julgamento, os três integrantes de facção criminosa denunciados pelo Ministério Público de Santa Catarina (MP/SC) por terem assassinado um casal em Palhoça foram condenados a penas de 73, 48 e 41 anos de prisão. As duas vítimas receberam golpes de faca e foram queimadas ainda vivas.
No julgamento, que iniciou às 9h de quarta-feira (24) e foi concluído pouco depois da meia-noite, o Promotor de Justiça Alexandre Carrinho Muniz sustentou que os três acusados foram autores dos crimes de homicídio, sequestro, ocultação e vilipêndio de cadáver, corrupção de menores e organização criminosa.
Segundo o promotor de Justiça, os crimes foram motivados pelo fato de os réus, integrantes de uma organização criminosa, suspeitarem da lealdade das vítimas (Rudimar Gonçalves Müller e Thuane Gonçalves da Cruz). Diante da suspeita, as vítimas foram sequestradas, torturadas, esfaqueadas e queimadas vivas. Em seguida, os réus fizeram vídeos comemorando as execuções.
Dois dos suspeitos foram condenados por todos os crimes a eles imputados. Um deles recebeu a pena de 72 anos e um mês de reclusão em regime inicial fechado, mais um ano e quatro meses de detenção em regime inicial semiaberto. O outro recebeu a pena de 47 anos e oito meses de reclusão em regime inicial fechado, mais um ano de detenção em regime aberto. O terceiro réu foi inocentado somente dos crimes de sequestro e organização criminosa, respondendo pelos demais. A pena foi de 40 anos e um mês de reclusão em regime inicial fechado, mais um ano em regime aberto.
Os dois homicídios foram qualificados por terem sido praticados por motivo torpe, com emprego de fogo e tortura e sem possibilidade de defesa por parte das vítimas. Ao homicídio de Thuane foi, também, agregado o motivo fútil.
Ao proferir a sentença, o Juízo do Tribunal do Júri da Comarca de Palhoça, considerando a gravidade dos crimes e as penas aplicadas, negou aos réus o direito de apelarem em liberdade, mantendo a prisão cautelar dos três. A decisão é passível de recurso.
Outros dois integrantes da facçção criminosa já foram julgados, em dezembro de 2018, pela participação nos crimes, e condenados a 71 e 47 anos de prisão em regime inicial fechado. Os crimes tiveram também a participação de pelo menos dois adolescentes.
Como foi o crime
A denúncia ajuizada pela 8ª Promotoria de Justiça da Comarca de Palhoça relata que Rudimar e Thuane auxiliavam um dos acusados no tráfico de drogas. Na noite do dia 19 de novembro de 2017, o casal foi abordado pela polícia, e em seguida, liberado, pois não tinha nada ilícito em seu poder.
Dois dos acusados, que ocupam o cargo de "disciplina" da facção criminosa, desconfiaram, devido à rápida liberação, que o casal havia delatado as atividades ilícitas da facção. Além disso, Rudimar e Thuane supostamente teriam "curtido" uma foto na rede social de um componente de facção rival, o que desagradou os acusados e, por isso, decidiram ceifar a vida das vítimas.
Foi então que, com auxílio de outros três acusados, deram início ao sequestro e homicídio de Rudimar e Thuane. Na mesma noite, Rudimar e Thuane foram inicialmente levados à casa de um dos réus, e depois, transferidos à casa de outro, onde foram severamente interrogados e submetidos a intenso sofrimento. O interrogatório foi gravado para servir de base para o julgamento pelos demais integrantes da facção criminosa.
Na noite seguinte, após ordem das lideranças da facção, Rudimar foi levado até um terreno baldio no Aririú, onde foi atingido por diversos golpes de facão e, em seguida, queimado ainda vivo. Thuane foi levada até uma estrada isolada em Águas Mornas e morta da mesma forma. Depois, os autores fizeram vídeos com os cadáveres comemorando as execuções.