"Minhas palavras viraram lágrimas. Com imagens descrevo meu voluntariado. Obrigada, Tailândia!" Foi assim que a universitária palhocense Mariana Bernado apresentou, nas redes sociais, o vídeo em que resume em imagens o trabalho voluntário desenvolvido na província de Prachinburi, na Tailândia, entre o final do ano passado e o início deste ano. Mariana deixou o Brasil no dia 14 de dezembro, chegou à capital Bangcoc no dia 16 e voltou ao Brasil no dia 18 de fevereiro. Uma viagem que trouxe aprendizado, enriquecimento cultural e um relicário de experiências que jamais deixará de povoar a memória.
O trabalho voluntário foi proporcionado através de um programa de intercâmbio organizado pela Organização Não Governamental (ONG) Aiesec. Duas frases logo na abertura do site da ONG já expressam o que significa participar de um projeto desses: "Acreditamos que experiências práticas em ambientes desafiadores desenvolvem líderes" e "Uma liderança sustentável é a solução para um futuro melhor". Tudo o que vivenciou na Tailândia certamente contribuiu para ampliar o potencial da estudante palhocense para, de fato, "liderar" o seu cantinho do mundo rumo a um "futuro melhor".
Antes mesmo de definir a participação no programa, Mariana já tinha a intenção de conhecer a Tailândia. O plano de fundo do computador da estudante era uma imagem da ilha de Koh Phi Phi, um paraíso natural no meio do chamado "Andaman Sea", no Oceano Índico. "Sabia que ia contar bastante para o currículo e pela causa, e por tudo o que eu tinha visto, gostei bastante e quis ir pra lá", lembra Mariana.
Depois da registrar a candidatura para participar do programa, Mariana recebeu um e-mail dos parceiros tailandeses e foi marcada uma reunião online, via aplicativo Skype, em inglês, onde respondeu a perguntas como "Se uma criança roubasse tua carteira, o que tu ia fazer?" ou "Se perdesse o passaporte, o que iria fazer?". Cumprido este processo, era hora de arrumar as malas. A família não confiou muito na aventura da universitária. Deram uma semana para que ela desistisse da ideia e voltasse para casa. Mas Mariana tirou de letras as dificuldades, em nome do aprendizado. E não foram poucos os parrengues, mas os bons momentos foram infinitamente mais frequentes _ e mais gratificantes.
A estudante foi designada para dar aulas de Inglês em uma comunidade rural, na província de Prachinburi, a cerca de três horas da capital Bangcoc. Assim que desembarcou no país, ainda na cosmopolita Bangcoc, uma das cidades mais visitadas do mundo, teve dois dias de imersão integral no idioma tailandês _ que, dizem, é muito difícil de aprender, especialmente pela fonética! Tudo para que pudesse interagir da forma mais próxima possível com as crianças do vilarejo onde passaria as seis semanas dedicadas ao trabalho voluntário.
Mariana ficou hospedada em uma espécie de instalagem, mantida por uma das professoras da escola onde fez o voluntariado, junto com uma intercambista da Indonésia e outra do Camboja, ambas de 18 anos. Como era mais "velha" (tem 20 anos), a palhocense se transformou em uma "big sister" para as colegas voluntárias. E para a criançada do colégio também, provavelmente. Até porque levou uma abordagem diferenciada às aulas de idioma, incluindo até exercícios de ioga na interação com a turma, formada por crianças de 10 a 15 anos. "Começando a entender um pouco o projeto, fazendo o dia a dia na escola, a gente percebeu que não era aula de Inglês que a gente estava indo dar, eles têm professores de Inglês, mas era essa diferença de cultura, engajar essas crianças a querer aprender Inglês, mostrar por que é importante, fazer elas conhecerem pessoas de outros países, porque é uma oportunidade que pra elas é muito difícil", reflete a universitária, que cursa Engenharia de Alimentos na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Até pelo fato de entender com propriedade o que se deve e o que não se deve fazer no armazenamento e no preparo de alimentos (e os tailandeses fazem tudo o que não deve fazer; não têm boas práticas de limpeza e higiene), a culinária local foi um dos aspectos que causou maior estranhamento à estudante. "A comida foi a parte mais difícil pra mim. Minha maior difculdade não foi a infraestrutura, foi a comida", conta Mariana, que teve intoxicação alimentar em dois momentos da viagem. Outra situação peculiar enfrentada durante o período de voluntariado foi o fato de que o banheiro da escola não tinha privada, e sim, aquelas latrinas, em que as pessoas fazem as necessidades fisiológicas agachadas, e não sentadas.
O calor de 38 graus em média (isso que era inverno!) e os insetos foram outros obstáculos que ela teve que superar para cumprir as seis semanas de voluntariado. Depois, durante o restante da viagem, aproveitou para fazer turismo. Mariana conheceu lugares paradisíacos, como a própria ilha de Koh Phi Phi e Railay Beach, que fica em Ao Nang, onde ela aproveitou para treinar o muay thai, que já praticava em Palhoça, sob o comando da fera Rodrigo Martinelli. Em Koh Phi Phi, Mariana foi convidada a fazer uma luta em um bar tradicional, chamado Reggae Bar, que tem um ringue de muay thai bem no centro. Lá, os clientes podem fazer rounds de exibição. Mariana topou o desafio _ e venceu!
Depois de perambular pelos lugares turísticos da Tailândia, ela ainda teve tempo de conhecer outros países do Sudeste Asiático, como Camboja, Filipinas e Singapura. "Tive um choque em Singapura, porque é muito moderna. Pensei: tô num paraíso romântico, uma cidade idealizada", narra. Uma cidade limpa, segura, ecológica e moderna ao mesmo tempo, totalmente sustentável. Um lugar para morar, quem sabe, no futuro. Mas acima de tudo, um lugar para lembrar, como cada pedacinho da Ásia que conheceu. "Me encantei pela Ásia. Foram duas experiências totalmente diferentes, com vários aprendizados muito legais. Não foi só o voluntariado. Foi a experiência de viajar sozinha, de conhecer uma outra perspectiva, com várias pessoas de diferentes lugares, com diferentes pensamentos", finaliza.
Assista ao vídeo do voluntariado!