Agentes do Departamento de Administração Prisional (Deap) da Secretaria de Administração Prisional e Socioeducativa impediram uma agressão que poderia facilmente terminar em tragédia em uma rua movimentada do Bela Vista, na noite da última sexta-feira (26).
Igor Bandeira de Matos e Silvano Santacatarina trabalham na Colônia Penal Agrícola, localizada no mesmo bairro. A maior parte do trabalho é realizada dentro da unidade, mas os agentes também realizam tarefas externas, como escoltas e acompanhamento de transferências de presos. Eles saíram da unidade e se deslocavam pelo Bela Vista rumo à delegacia de Palhoça para um procedimento de rotina, quando uma mulher praticamente pulou em frente à viatura do Deap para pedir ajuda. Os agentes contam que a mulher estava muito alterada, com a calça jeans rasgada na altura do joelho e com o joelho machucado. Ela tinha uma faca na mão e relatou aos agentes que um homem havia tentado matá-la com a faca, mas teria conseguido retirar a arma da mão dele.
Os agentes, então, iniciaram a perseguição ao suspeito, localizado poucos metros à frente, em um terreno baldio. Os agentes conseguiram abordar o agressor e imobilizá-lo. “Embora nosso treinamento seja voltado para o trabalho dentro da unidade, nós temos treinamento também para situações que por ventura possam vir a ocorrer. A gente faz vários cursos, o que nos deixa mais tranquilos para fazer uma abordagem, porque tem toda uma técnica”, comenta Igor.
Havia a suspeita de que o agressor ainda estivesse armado, mas nenhuma arma foi encontrada com ele. Porém, um popular informou que no momento em que os agentes perseguiam o homem, ele havia jogado um objeto para baixo de um carro. Igor usou a lanterna do celular para fazer uma busca debaixo do veículo e encontrou uma tesoura grande. Controlado o agressor, Igor conta que focou em dar atenção à vítima. “Eu estava com medo de que por ventura ela viesse a sair de lá e não fosse registrar a ocorrência”, relembra.
Os agentes solicitaram o apoio da Polícia Militar e vítima e agressor foram encaminhados à delegacia. A vítima revelou que já teve um relacionamento com o agressor e que já havia registrado queixa contra ele por agressão. Uma nova queixa foi registrada, desta vez por tentativa de feminicídio. “A preocupação dela, quando nós aparecemos, era a de que nós pegássemos ele, porque ele teria dito que iria matá-la. Então, a preocupação era a de que, se a gente não pegasse ele na hora, ele voltasse e concluísse o que iniciou”, recorda o agente Igor. “Ele poderia voltar e matar ela”, concorda Silvano.
Os dois agentes têm a consciência de que ajudaram a salvar uma vida. “Não é uma situação de rotina nossa, mas como era necessário, nós agimos”, diz Igor. “Fiquei muito feliz em poder ajudar alguém naquela situação. Talvez, se a gente não tivesse passado ali naquele momento, ele poderia ter concluído o feminicídio”, acrescenta. “Se ele não tivesse visto o giroflex da viatura, até acredito que pelo fato de ter uma arma branca, na verdade duas, possivelmente poderia ter acontecido uma tragédia”, pondera Silvano.
Violência doméstica
Por coincidência, Igor Bandeira de Matos tem se especializado no estudo de casos de violência doméstica. Ele destaca que entre 2018 e 2019 foram registrados mais casos de violência doméstica do que de tráfico de drogas, por exemplo. “Tenho essa função de agente, mas vejo que cada um pode tentar contribuir para a sociedade de alguma forma a mais. Como eu sempre gostei do tema e vejo que os números são muito altos, achei que podia contribuir. Tenho conhecimento do assunto, busquei mais dados e esse trabalho tem tido muita aceitação”, revela o agente, que tem sido convocado para participar de eventos e oferecer palestras sobre o tema. “Nas palestras, explico o que é a violência doméstica, passo alguns fundamentos, como funciona perante a lei, mas sempre fico preocupado em dizer o que a mulher tem que fazer para se proteger”, detalha.