Nada mais saudável, em uma sociedade, do que plantar a semente de uma atitude coletiva. Foi o que fizeram voluntários de todas as idades no último sábado (21), uma data especial para os palhocenses. A data já é naturalmente marcada pelo simbolismo, uma vez que celebra o Dia da Árvore. Mas, em Palhoça, as ações realizadas na orla da Ponte do Imaruim e no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro transcenderam a noção cotidiana de “celebração”, alcançando outro patamar, o do renascimento.
No limite Norte do município, na castigada orla da Ponte do Imaruim, a turma do projeto Palhoça Menos Lixo comandou um mutirão para marcar a passagem do Dia Mundial da Limpeza (World Cleanup Day), que mobilizou milhões de voluntários em 170 países. Em Palhoça, a iniciativa foi acompanhada por cerca de 300 voluntários de diferentes “tribos”, organizados em seus grupos particulares, mas unidos pelo objetivo comum de recuperar a natureza degradada da localidade.
Os voluntários retiraram 3.310 quilos de lixo do local - teria sido mais, mas não conseguiram retirar tudo o que encontraram pelo caminho. “Muita coisa ficou para ser retirada! Pneus, uma quantidade absurda ficou por lá, pois se trata de um resíduo que em tese seria a fabricante que deveria receber de volta! Temos uma solução para este problema e em breve estaremos levando a solução para a Samae e a Proactiva”, revela Leonardo Quint, um dos idealizadores do Palhoça Menos Lixo, que completou um ano de atividades voluntárias em Palhoça. Contando os pneus e outros materiais pesados que seriam coletados em outro momento, a ação dos voluntários terá retirado da Ponte do Imaruim cerca de 5 toneladas de resíduos descartados. “O projeto veio para mostrar que, com pouco recurso, muita vontade, energia e amor à causa, muito pode ser feito”, ressalta Leonardo.
Para a Associação dos Pescadores da Ponte do Imaruim, o mutirão foi excelente, mas muito trabalho ainda precisa ser feito para mobilizar a comunidade local. “Sentimos falta da participação da comunidade local, pouquíssimos vieram se voluntariar”, lamenta Valéria Pinheiro, presidente do Grupo de Projetos da associação. “A associação já vinha batendo de frente com o acúmulo de lixo na praia e tomando algumas medidas que não agradam aqueles que usam a praia como depósito de lixo e este montante de lixo só vem confirmar que não estamos errados em tomar atitudes para melhorar nosso bairro. Agora, com a parceria com o Palhoça Menos Lixo e o Rotary Club de Palhoça, pretendemos criar um projeto de manutenção, para mantermos o local limpo e conscientizar a comunidade”, informa.
Para o Rotary Club Palhoça Pedra Branca, foi um dia marcado pela união de forças. “Mobilizamos mais de 15 rotarianos e convidados para participar desse grande evento. Os rotarianos, além de colocarem a ‘mão na massa’, recolhendo o lixo da região, também participaram na sensibilização e conscientização da nossa maior causa, que é a erradicação da poliomielite. O Rotary Club Palhoça Pedra Branca levou o carismático Zé Gotinha para divertir e lembrar as famílias da importância da vacinação”, comenta a presidente do Rotary Club Pedra Branca Palhoça, Sandra Coloneti Machado.
Plantando atitude
No outro extremo, no limite Sul do município, foi um sábado de recomeço, 10 dias após o fim do incêndio que destruiu cerca de 800 hectares de vegetação do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. Uma nova força-tarefa invadiu o parque, desta vez, as mangueiras foram substituídas por enxadas; a água, pela terra; as chamas, por mudas; as cinzas, pelo verde. O batalhão formado pela comunidade substituiu os heróis do combate ao fogo em uma missão de repovoamento da flora local.
Cerca de 200 pessoas, entre profissionais do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA), técnicos do Instituto Çarakura, homens, mulheres, jovens e crianças cruzaram o parque carregando nas mãos mudas de plantas e nos corações a certeza de estar fazendo a diferença. Um verdadeiro mutirão pela natureza rompeu a tristeza deixada pelo fogo para plantar uma nova era na maior unidade de conservação de proteção integral de Santa Catarina.
Pés firmes e guiados pela consciência de proteger e recuperar o meio ambiente avançaram pela área transformada em cinzas. Mãos fortes empunhando enxadas, impulsionadas pela esperança de um planeta biodiverso e sustentável, sacudiram a terra, até então arrebatada pelas chamas, abrindo espaço para semear nova vida, para restaurar o verde que o fogo tornou cinza.
Se as causas da tragédia foram ocasionadas por uma, duas ou mais pessoas, tantas outras mostraram, neste sábado (21), que se levantarão para mudar a história, para fazer diferente, para combater, controlar, recuperar e fazer nascer de novo. A força-tarefa realizou o plantio de cerca de 200 mudas de aroeiras, araçazeiros, canelas-do-brejo, gabirobeiras, ipês, pitangueiras, jerivás, tarumãs e outras espécies em parte da área queimada no parque. O plantio foi feito próximo à estrada, pela facilidade em molhar as mudas.
Além do plantio de mudas, a ação também contou com uma exposição de fotos do incêndio coletadas nas redes sociais, elaboradas por crianças de uma escola da Pinheira; e de cartas enviadas por alunos de uma escola de Biguaçu que haviam visitado o parque e, quando souberam do incêndio, enviaram palavras de apoio. “Para mim, o que chamou muito a atenção foi a quantidade de criança que tinha plantando. Elas colocaram a mão na massa mesmo”, comemora o coordenador do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, Carlos Cassini. Depois do plantio, a turma de voluntários se reuniu em torno da casa açoriana para um piquenique, acompanhado por dança de roda e ioga. “Para nós, o movimento foi uma coisa incrível. A gente se sente um pouco isolado, com tanta falação contra o parque, e ver todo aquele povo ali, unido, num ato de amor, plantando as mudas, querendo ajudar na reconstrução, foi bem bacana”, celebra Cassini.
A atividade faz parte de uma série de ações programadas para recuperar a área atingida pelo incêndio. No dia 5 de outubro, também um sábado, haverá uma mobilização de limpeza nas proximidades da Estrada do Espanhol. A Prefeitura irá disponibilizar trator e caminhão para a retirada do lixo que parte da população cisma em depositar naquela região. Mas eles são minoria. “É importante o apoio que a comunidade deu pra gente e para o parque, principalmente fazendo uma frente a este pessoal que não dá a mínima e ainda tem a cara de pau de botar fogo e ainda invadir áreas do parque”, finaliza Cassini.