Elas desenham cartilhas, criam histórias, reproduzem um telejornal. Cada criança expressa o mundo afetado pela Covid-19 com um jeito peculiar, com a inocência da infância e a fertilidade da imaginação, mas ao mesmo tempo, com um conhecimento “pescado” em diferentes fontes. O resultado é um universo cotidiano redesenhado em tons de resignação e esperança.
No Pagani, Bethany Cracco usa desenhos e palavras para definir as transformações em sua vida de criança de 10 anos de idade, diante de um vírus que ela viu bem de perto. Ela, o irmão e a mãe provavelmente passaram pela provação da Covid-19. O irmão, Kayubhy, de 16 anos, apresentou um quadro gripal incomum logo após o Carnaval. Depois, foi a vez da própria Bethany apresentar dores na garganta e na barriga. Por fim, a mãe, Dihaimi Schmitz, apresentou praticamente todos os sintomas relacionados à doença. “Tive conjuntivite logo de início, diarreia dias antes, dores horríveis de cabeça, perdi o olfato e o paladar, não conseguia andar de tantas dores, muita tosse seca, e falta de ar por quatro dias e três noites”, conta Dihaimi. “Tive febres por uns dias, não sei quantos”, acrescenta.
A família não passou pela testagem (apenas casos mais graves estavam sendo testados naquele momento da pandemia na Grande Florianópolis), mas, diante de tantas características, é bem provável que tenham vivido na pele os efeitos que o novo coronavírus provoca no organismo. Consciente disso, Dihaimi manteve todos em isolamento domiciliar por mais de 20 dias e alertou o condomínio onde mora - e onde vivem mais de 300 famílias.
Longe da rotina, a pequena Bethany aproveitou o tempo para escrever roteiros. Entre desenhos e palavras, ela passa o tempo. “Nesta fase de não poder fazer as minhas atividades normais, tanto da escola quanto para me divertir, está sendo bem difícil. Não posso mais ir para a escola, fazer minhas tarefas, ver meus amigos e brincar com eles. Como agora eu tenho que ficar em casa de quarentena, faço algumas coisas para me divertir. Por exemplo: eu brinco muito. Essas brincadeiras são: ver vídeo, ver filmes, ligo para as minhas amigas; danço, pinto, escrevo, brinco com meus gatos, faço algumas loucuras... Eu aproveito bastante, mas aqui em casa, né”, conta Bethany.
A linda menina dos olhos claros, que foi miss Brasil mirim em 2017, dá o recado aos palhocenses: “Eu peço, por favor, por favor mesmo: fique em casa! Quem puder, é claro! Usem máscaras recomendadas, passem álcool em gel nas mãos, lavem bem as mãos e quando voltarem da rua para casa vocês têm que tomar mais cuidado ainda. E quem está doente ou tem amigo ou familiar doente, tenha esperança que vai dar tudo certo e o que tem que acontecer vai acontecer no seu devido momento”, projeta.
"Vou abraçar minha professora"
Seguindo a vocação do pai, o editor-chefe do Palhocense, Alexandre João Bonfim da Silva, e do avô, o fundador do jornal, João José da Silva, a jovem Lara Cardoso da Silva, que completa 10 anos nesta quinta-feira (23), organizou um telejornal para falar sobre sua visão de mundo neste momento tão singular da história da humanidade. “Nesta pandemia, eu sinto bastante falta dos meus avós, dos meus amigos, e de toda a família que eu não consigo ver, ou porque mora muito longe ou porque tem alto risco de pegar a doença”, conta Lara.
Ela sente falta de sair, mas sabe muito bem como se divertir em casa. “Dentro de casa, meu passatempo é jogar um jogo, assistir a um filme, brincar de boneca, brincar com meu irmão, brincar de bola com meu pai e com a minha mãe. É muito, muito chato ficar dentro de casa, mas também tem bastante coisa legal pra fazer”, ensina. “Quando acabar logo isso, a primeira coisa que eu vou fazer vai ser abraçar minha professora, os meus amigos, a minha família, meus avós e finalmente poder sair de casa”, conta.
Entre super-heróis e dinossauros
Vitor Zimmermann Moreira, de oito anos, criou uma história em que o coronavírus ataca o Reino Perdido. Os cientistas percebem que os justiceiros estão ficando doentes e descobrem o vírus, que é combatido por super-heróis e dinossauros. “Os super-heróis são aqueles que estão tentando proteger as pessoas. Tipo os médicos, entregadores de comida, bombeiros, o Samu, a minha tia, que é da saúde. Os justiceiros são aquelas pessoas que estão doentes em isolamento, que estão dentro de casa. E os dinossauros são aqueles cachorros que ficam na rua, que não têm casa, comida, daí eles podem estar contaminados, e a pessoa pega eles e não sabe que eles estão com coronavírus e fica doente. Os cientistas são aqueles que estão tentando descobrir a vacina para acabar com esta pandemia”, conta o Vitor, que sente falta dos familiares e da escola, “porque lá na escola eles ensinam muito melhor, a gente fica lá e a professora vai explicando mais direitinho e aqui em casa a professora não pode vir, aí a gente tem que ver vídeo”.
Neste período de quarentena, Vitor brinca com seus brinquedos, anda de bicicleta ao redor da casa, joga um pouquinho de videogame, assiste TV, lê e escreve bastante. Mesmo isolado em casa, têm consciência do que está acontecendo no mundo. “No início, a gente estava bem assustado com o noticiário, com tudo que passava, e criou meio que um pânico em todos nós. Claro que a gente conversou com ele, explicou sobre a importância principalmente da higiene com as mãos, até porque na primeira semana que começou essa pandemia ele ainda estava indo para a escola, então foi uma preocupação muito grande, porque como ele é uma criança, ele ainda esquece”, conta a mãe, Alessandra Zimmermann Moreira. Mas Vitor aprendeu direitinho a noção de proteção, tanto que expressou muito bem em sua história. “Eu falei na minha história que o uso de máscara e luva quando sai de casa é bem importante, usar álcool também. E quando a gente chega em casa, a gente lava bem a mão; não botar a mão na boca, no nariz; e ficar longe uns dos outros e não beijar também, só que eu gosto muito de beijo. E eu fico também triste porque se a gente ficar uns perto dos outros as pessoas vão se contaminar bem rápido e vai morrer um monte de pessoa, e eu fico muito triste com isso, eu não acho legal esse vírus”, define. “O Vitor percebe tudo com muita facilidade e ele se coloca muito no lugar dos outros, ele percebe a questão de que tem pessoas que estão sofrendo com a pandemia e com o desemprego, a gente conversa com ele sobre isso também”, relata a mãe, que aprova a forma como o filho expressou sua visão da pandemia, com super-heróis e dinossauros (que ele adora), com a esperança de que uma vacina possa ser encontrada para curar todas as pessoas. “Eu queria que acabasse tudo isso hoje”, finaliza Vitor.
Problemas durante o Caminho
Por: Bethany Cracco
Em uma bela noite ou um dia ensolarado minha mãe no início do ano de 2020 me pediu uma coisa. Essa coisa era para ser secreto ou seja, só eu poderia saber da existência dela. Bom, a minha mãe sabia que ela existia só não sabia o que tinha nela. Eu nem terminei ela, só faltava três itens para eu fechá-la no caso.
Você quer saber o que é? O que minha mãe pediu? Por que só eu sabia o que tinha nela?
Isso você vai descobrir agora!
Minha mãe me pediu uma lista, a lista 2020, o que teria nela? Bom, teria que ter 20 itens que você (eu) gostaria de fazer em 2020 e em 2021 todos nós iríamos ver a lista de cada um e o que cada um cumpriu, até que...
Veio um dos piores inimigos que poderíamos ter! Esse inimigo É UM CHATO. Ele veio e atropelou tudo, tanto a minha lista quanto nossas vidas. Ninguém sabe a força dele, mas ele é forte. Mas não pense que ele é INVENCÍVEL, porque não é. Essa crise vai passar, só tem que ter paciência, coisa que eu não tenho muito, já que ele atropelou tudo.
Eu não posso mais fazer coisas que eu gostaria, mas não foi tão ruim minha lista ter parado, sabe por quê? Eu nem lembrava dela hoje e nem o que tinha nela e tem coisas de lá que nem faço questão de cumprir, quase a maioria pra falar a verdade.
Mas de uma coisa tenho certeza: a lista de 2020 morre esse ano.
MAS A LISTA DE 2021 AINDA VAI NASCER...
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