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A menina doce e sorridente que partiu cedo demais

Atropelada na BR-282, no Alto Aririú, a pequena Emily, de 10 anos, não resistiu aos ferimentos. Comunidade pede uma passarela no local

753704b306d9f4e7a6210615f30f0007.jpeg Foto: ARQUIVO DA FAMÍLIA

Texto: Isonyane Iris

 

Menina doce, cheia de sonhos, estudiosa e com um sorriso encantador. Assim era a pequena Emily, de apenas 10 anos. No final da manhã de domingo (24), aquele sorriso tão alegre se apagou. Emily e sua irmã voltavam da igreja e estavam terminando de atravessar a BR-282, no Alto Aririú, quando, já no acostamento, um veículo, que segundo informações tentava ultrapassar, as atingiu. “Lembro que já tínhamos atravessado, estávamos pisando no acostamento quando um carro bateu na gente”, relembra Jéssica Petri Cesconetto, sobre o dia em que a irmã mais nova parou de sorrir. Deitada naquele asfalto enquanto aguardava socorro, Emily teve sua última reação: apenas uma lágrima.

Ainda muito emocionada, a mãe de Emily, Patrícia Petri, conta sobre a paixão da filha pela boneca Barbie. “Só Deus para saber a minha dor. Ela era uma filha maravilhosa que Deus tinha me dado. Cuidadosa com tudo que tinha, amava brincar de boneca Barbie, tinha uma coleção delas, inclusive a última eu dei umas semanas antes dela partir. Ela tinha me pedido muito por mais uma, me disse que seria só mais essa, e eu comprei. Não imaginava que essa seria a sua última boneca”, relembra a mãe, emocionada ao perceber que a boneca está praticamente nova, pois a filha mal conseguiu brincar.

A mais nova entre seis irmãos, Emily era apaixonada por animais, tanto que entre seus sonhos estava o de ser veterinária. Pela filha, Patrícia conta que tinha dentro de casa dois cachorros e um hamster. Estudiosa, era aluna do 5º Ano da Escola Nicolina Tancredo, no Alto Aririú, onde deixou muitos amigos. “Ela era uma menina incrível. Era linda demais, como diz meu cunhado: ‘De todas as irmãs, a Emily sempre vai ser a mais linda’. Meiga, amiga, carinhosa, boa aluna, tinha bastante amiguinhos, tinha tantos sonhos, mas o que ela sempre falava é que queria ser veterinária. Ela sempre nos fazia rir com suas palhaçadas. Era daquelas crianças que a gente podia levar para qualquer lugar que com certeza se comportaria muito bem. Toda animada e sorridente, não existia tristeza e nem tempo ruim pra ela. Emily, nossa princesa, o anjo mais lindo do céu”, destaca a irmã Luísa dos Passos Martins.

Entre inúmeras qualidades e talentos, Emily amava cantar, e segundo quem teve o prazer de ouvi-la, sua voz era doce e angelical, assim como ela. “Ela cantava hinos da igreja com uma voz linda. Com o tempo, ela foi melhorando ainda mais e por onde passava e cantava, também encantava a todos”, afirma Luísa. “A Emily era uma menina muito querida. Sempre que estávamos juntas, brincávamos bastante. Ela era uma menina muito esperta, inteligente, conversadeira, um amor! Sempre muito parceira e atenciosa! Adorava me mostrar as coisas, brinquedos, bichinhos, a gente dava muitas risadas. Na última vez em que nos vimos, brincamos de pular corda e de subir nas motos do pai. Nunca vou esquecer desse dia maravilhoso que passei com ela! Ela era uma irmã muito amada”, descreve a irmã Camila Lima Martins. 


O acidente

Emily e Jéssica estavam voltando da Escola Bíblica Dominical da igreja em que frequentavam, como faziam todos os domingos. O trânsito na BR-282, segundo testemunhas, estava muito tranquilo, tanto que não vinha nenhum veículo no sentindo de Palhoça a Santo Amaro da Imperatriz. “Um carro que vinha de Santo Amaro parou para as duas atravessarem, foi quando um outro veículo, que vinha em alta velocidade, resolveu ultrapassar pela direita, ou seja, pelo acostamento, onde as duas irmãs estavam chegando. Após atravessar as duas pistas, ele as atropelou. Ele pegou elas com tudo e não parou para socorrer. Ele tentou fugir, mas testemunhas conseguiram parar ele, que estava acompanhado por uma menina no carro. Pelo que sabemos, ele não foi preso e está solto, enquanto eu estou com uma filha morta e a outra aguardando cirurgia para pôr pinos e parafusos”, lamenta a mãe das meninas.

“No dia do acidente, eu tinha ido almoçar na casa do meu pai, onde minha madrasta ligou pra a Jéssica para saber onde elas estavam e colocou no viva-voz. Lembro que a Jéssica atendeu e disse que iriam atravessar a rua. Mas, antes de desligar o telefone, escutamos a Emily gritando. Meu pai ainda brincou que era ela fazendo bagunça. Quando fomos ver na sacada, na verdade era o início do pior dia das nossas vidas. Foi muito doloroso ver ela lá no chão daquele jeito. Ninguém tinha forças pra fazer alguma coisa, até que depois de reanimar ela, eu me ajoelhei do lado da cabeça dela e falei: ‘Meny, a mana está aqui. Foi neste momento que uma lágrima escorreu do olho dela, foi a última reação, somente aquela lágrima”, relembra a irmã Caroline Martins.

Após ser reanimada, Emily foi levada às pressas para o hospital, em coma, onde permaneceu viva com a ajuda de aparelhos até quinta-feira (28). “Era muito doloroso ver aquela menina linda e alegre em cima de uma cama de hospital, tendo que respirar através de aparelhos”, lamenta Luísa.
A família conta que o último dia com a Emily foi muito triste. As irmãs Luísa e Caroline, acompanhadas do pai, estavam no hospital, quando, por volta das 9h20 de quinta (28), os médicos chamaram a família para se despedir. “Seu coraçãozinho estava parando, foi muito doloroso ver os batimentos dela chegarem ao zero. Não consigo nem lembrar direito. Só sei que a imagem daquele zero eu jamais vou esquecer”, descreve Caroline.

Com algumas fraturas e bastante escoriações pelo corpo, Jéssica segue no hospital, aguardando por cirurgia. “Vou sentir muita falta da mana, sempre onde eu ia ela estava comigo”, afirma.

“De uma coisa eu tenho certeza: se Deus me permitisse trazer minha filha de volta, eu não faria isso; tenho certeza que ela ficaria brava comigo, porque eu sei que ela está em um lugar lindo”, afirma a mãe, em meio às lágrimas.


Manifestação

Cansados de esperar por uma passarela no local do acidente, onde muitos moradores, inclusive idosos e crianças, atravessam diariamente, a comunidade resolveu se manifestar na sexta-feira (29). “Fechamos a BR-282 nos dois sentidos, como forma de homenagear a nossa Emily e assim aproveitar para chamar a atenção das autoridades, para que outras vidas não sejam levadas por falta de uma passarela. Eles querem que a gente atravesse por um túnel que está completamente abandonado, além de ter virado ponto de tráfico e ainda de risco para mulheres e crianças. Então, todos preferem atravessar pela BR-282”, explica a família, que promete uma nova manifestação nesta sexta (5), a partir das 17h30, na BR-282, no trecho que corta o Alto Aririú, onde ocorreu o acidente.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que o órgão competente para fazer melhorias na rodovia é o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). “Seria importante a comunidade entrar em contato com o Dnit, marcar uma reunião com o superintendente, para que ele pudesse receber um líder comunitário e assim perceber a necessidade de uma passarela no local. Tenho certeza que eles fariam o estudo necessário e poderiam ver todas as possibilidades para atender o pedido da comunidade”, explica o policial rodoviário federal Adriano Fiamoncini, integrante do núcleo de comunicação social da PRF. 

O Dnit informou, por meio da sua assessoria de imprensa em Santa Catarina, que já recebeu solicitação de lideranças da região para a construção de passarela de pedestre no local. “Sofrendo contingenciamento de recursos, a autarquia aguarda definições orçamentárias para elaborar projeto e desenvolver a construção da passarela. Por enquanto, não há previsão”, alega o órgão.

Em uma brincadeira em vídeo um dia antes do acidente, Emily fala em tom de despedida. Clique e confira!



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Créditos: ARQUIVO DA FAMÍLIA ARQUIVO DA FAMÍLIA
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