Não é de hoje que Palhoça é referência em fisiculturismo. Nossos atletas costumam conquistar bons resultados em competições estaduais e nacionais. No Sardinha Classic 2019, disputado em Balneário Camboriú, entre 20 e 22 de setembro, não foi diferente. Atletas como Daniel Vieira e Alcides José da Silveira Neto tiveram destaque no evento, que contou com 562 competidores e a presença de 4.126 espectadores nos dois dias de apresentações.
O Sardinha Classic é promovido pela Pro League Santa Catarina, vinculada à Federação Internacional de Fisiculturismo (IFBB), e distribui vagas para a etapa nacional do prestigiado Arnold Classic, competição anual que homenageia o ator e fisiculturista Arnold Schwarzenegger. O Arnold Classic Brasil será disputado em São Paulo, em abril de 2020. “Já comecei minha preparação, pois tenho seis meses e passa rápido para um atleta desse esporte. Muitas vezes esse tempo é curto, pois trabalhar com o corpo, com o organismo, exige muito cuidado”, reflete Daniel, que está correndo atrás de patrocínios para bancar os custos da participação no evento.
Daniel foi criado na Ponte do Imaruim, onde mora. Desde pequeno, gostava do fisiculturismo. “Como não podia ir pra academia, treinava em casa com pesos feitos com latas de tinta cheias de cimento”, relembra. Ele conta que era muito magro e costumava ser “zoado” na escola. “Sorte que na época não existia bullying”, diverte-se. A diversão ficou séria aos 20 anos, quando começou a buscar informações sobre o fisiculturismo. Com 23 anos, o treinamento intenso levou às primeiras oportunidades de competir, mas preferiu esperar. “Tem que ter um bom tempo de treino para ter uma massa muscular formada. Hoje em dia, muitas pessoas começam a treinar e já querem competir, e isso é errado, porque você só terá uma massa formada para competir após uns cinco anos”, receita.
O Sardinha Classic foi sua primeira competição, e mesmo competindo com atletas de alto nível, chegou ao top4 da sua categoria dentro da modalidade men’s physique. “Pra mim, é como se ficasse em primeiro, por conta de competir ao lado de atletas de alto nível”, diz o fisiculturista, que foi auxiliado pelo coach Felipe Marques. “Esse esporte é o mais insano que existe, por conta de você cortar alguns alimentos e muitas vezes não poder tomar água”, define o atleta.
Alcides também descreve as dificuldades que a rotina de treinos impõe, principalmente na reta final de preparação, quando tudo é calculado milimetricamente, da dieta à “malhação”. O atleta mora em Palhoça e trabalha em um banco em Florianópolis, mas ainda assim encontra tempo para se dedicar ao fisiculturismo, à família e aos estudos (é formado em Administração, está na quarta fase de Educação Física e faz pós-graduação em Metabolismo e Emagrecimento). É ativo nas redes sociais, onde dá dicas e ajuda quem está começando, orientando com relação aos meandros do body building. E tem muito detalhe até chegar ao palco de uma competição.
O quinto lugar na sua categoria, na modalidade classic physique novice (destinada a atletas menos experientes), logo em sua segunda competição, coroou um trabalho de muitos anos esculpindo o corpo. “Eu era gordinho e me sentia muito mal. Ninguém nunca riu de mim, nunca sofri bullying, mas me sentia muito mal, desde sete, oito anos. Eu só jogava bola em time que tinha camiseta, não tirava camiseta de jeito nenhum”, relembra. Foi jogando futebol que ele machucou o joelho e precisou passar por uma cirurgia, aos 14 anos. Aí, parou de fazer atividade física e entrou em depressão. Como precisava fazer academia para fortalecer a musculatura da perna por causa da lesão no joelho, Alcides se espelhou em sua madrinha, que havia começado a fazer dieta, e decidiu levar a sério a rotina de malhação aliada a uma alimentação controlada.
Criou gosto pelo body building, mas não pensava em competir. Até que um amigo sugeriu que ele tinha um corpo com desenho apropriado para a competição. Procurou um treinador e o plano foi traçado: em um ano, estaria no palco. Mais do que isso: teria o esforço reconhecido. Assim que recebeu a medalha de quinto lugar, correu até a namorada, que é uma das suas maiores incentivadoras. “Quando fui mostrar a medalha pra minha namorada, ela estava chorando um monte. Claro que a gente queria o primeiro lugar, mas só de ver toda a preparação e ver que a gente chegou realmente como a gente queria, que era dar o máximo nosso, aquilo ali já foi muito bom”, destaca.