Quem vive em Palhoça sabe da quantidade desproporcional de loteamentos que aqui surgiram nos últimos anos, o que inchou a cidade, aumentou a população em um curto período de tempo, entupiu as vias, fez crescer a demanda por uma série de serviços e, por consequência, as responsabilidades de quem gere o município. Apesar disso, o atual prefeito fez aprovar por meio da Câmara de Vereadores (dócil como papagaio), o projeto de lei 641/2019 para construção de uma via pública, cujo trajeto nos lembra a viagem do corvo.
A obra começaria na Avenida Paulo Vidal (fundos do Loteamento Santa Clara II), até a marginal da BR 101, Km 215, com bifurcações pela Rua Pedro Paulo Martins e Rua João Duarte Raimundo (Loteamento Fagundes – Caminho Novo), localidade, destaque-se, em que falta luz e água três vezes por semana. A Prefeitura, por sua vez, iniciou um asfaltamento da Rua João Duarte Raimundo, que vai da marginal da BR 101 até a Avenida Paulo Vidal, mas a cobertura asfáltica é interrompida a cerca de 300 metros da Rua Pedro Paulo Martins, fazendo uma volta três vezes maior do que tivesse dado continuidade aos serviços iniciados pela própria Rua João Duarte Raimundo. É como, querendo ir a Biguaçu, entrar em Florianópolis primeiro. Não faz sentido.
Então, aquela interrupção asfáltica intrigou-me, mas nada é por acaso. A via cortará exatamente ao meio terreno sem entradas e saídas (encravado), vizinho ao meu. O desenho é feito sob medida para permitir a construção de um loteamento naquela localidade, além, claro, de abrir asas aos famosos aditivo$$$. Se utilizassem a própria Rua João Duarte Raimundo, os valores da obra poderiam ser reduzidos em cerca de 80%.
O atual prefeito e os vereadores foram “convencidos” de tamanha barbaridade com o dinheiro público em tempos de pandemia. Além disso, caso a justificativa fosse tratada com a seriedade devida, o fluxo dos veículos que vêm da Avenida Paulo Vidal, deveriam sair na Rua Orlando Tancredo, que já estaria próxima ao viaduto da BR 282. Mesmo assim, para que o trânsito pudesse fluir com mais celeridade, não se justifica a obra, já que a edificação de casas e prédios em mais um loteamento acarretaria aumento substancial no número de veículos. Isso sem falar no impacto ambiental, pois neste local vivem inúmeros animais silvestres.
Infelizmente, no Brasil, nossos gestores públicos adoram construir obras que, quanto mais caras, melhor. Apenas para lembrá-los de que o favorecimento do poder público para com a iniciativa privada certamente, no futuro, poderá acarretar apurações legais e, eventualmente, ações por improbidade administrativa.
Palhoça, 29 de setembro de 2020.
João Rosa de Freitas Junior (DOCA)
Publicado em 30/09/2020 - por Palhocense