Sem medida
O Ministério da Saúde, certamente o mais importante deste ano, registra que, a cada quatro minutos, uma mulher brasileira é agredida por pelo menos um homem e sobrevive. A palhocense Patrícia Vicente não faz parte dessa estatística de sobrevivência: ela morreu, segundo as investigações, pelas mãos do próprio companheiro!
O jovem Nielsen Ubiratan, o Bira, acreditava em uma cidade mais humana e digna. Tinha um sorriso franco e largo que cativou muitos de nós. Ele é uma das 12 vítimas fatais (segundo dados atualizados nesta quarta-feira) da Covid-19 aqui em Palhoça.
Um número é frio e pode ser cruel. Difícil acreditar que uma vida, cheia de acertos e erros, amores e desencontros, pode ser reduzida a um numeral. Não parece justo.
Mas, juntos, os números gritam do papel. O desenho da escalada da violência doméstica ou do “estouro” no novo coronavírus aqui em Palhoça (publicado na capa de hoje) é um tapa na cara. Acontece que a gente se acostuma a levar tapas na cara.
O efeito de sabermos da morte de 70 mil brasileiros, vítimas da pandemia, não nos atingiu mais do que a notícia de 10 mil. E assim, parece que vamos nos anestesiando e relaxando.
Talvez o caminho para reacendermos a empatia aqui dentro seja tentar ver em cada numeral do gráfico o sorriso do Nielsen ou a ternura da Patrícia. Isso é resgatar um número para a realidade e nos fará abrir os olhos para nossa própria responsabilidade.
“A medida de amar é amar sem medida” (Santo Agostinho).
Publicado em 16/07/2020 - por Palhocense