Justiça a quem cabe
O relógio da redação do jornal Palhocense marcava 14h05 quando recebemos a primeira ligação dando conta de um grande tumulto no bairro Aririú. Um grupo de moradores se aglomerava em um posto de gasolina na entrada da Guarda do Cubatão. A leitora, transtornada, se dizia em choque, relatando que um homem estava sendo espancado e que agonizava à beira da morte.
Novos relatos chegavam, todos embebecidos em detalhes cruéis. Com as primeiras postagens nas redes sociais por parte de nossa equipe, uma avalanche de opiniões lampejou as telas. O fórum segue aberto e o traço mais forte é o da intolerância no campo das ideias. Todos são contra todos.
A desconstrução da confiança da população com relação à Justiça está no pano de fundo da notícia do linchamento. Primeiro, porque o cidadão é levado a crer que, se entregue à polícia, um criminoso não será punido exemplarmente. Depois, que essa mesma Justiça não será capaz de lhe colocar atrás das grades, caso resolva espancar alguém até a morte.
Outra prova do descrédito da Justiça brasileira está na fala das centenas que comentam: “Está com pena? Leva pra casa”. Pois bem! Lugar de bandido deveria ser na cadeia. Não na casa de quem quer que seja.
Nesse furor de emoções, opiniões e ideologias, a imprensa, é claro, também vira alvo. Muitos discordaram do teor noticioso das nossas postagens. Queriam posicionamento. Queriam identificação do homem que morreu com a tarja de “ladrão”. Apesar de todo esse desgaste, o rótulo a ser colocado sobre cada um dos envolvidos nessa história lamentável, caros leitores, deixaremos a quem cabe: a Justiça.
Publicado em 19/09/2019 - por Palhocense