Como explicar a falta que você me faz? Como traduzir em palavras o vazio que sua ausência deixou em todos nós? Sua voz não era apenas um som, era um grito de emoção, uma melodia de revolução, uma poesia cantada que tocava a alma de quem ouvia e ainda ouve.
Você foi como uma estrela cadente: iluminou o mundo com seu brilho intenso e partiu rápido demais. Mas sua luz jamais se apagou. Pelo contrário, continua refletida em cada nota, em cada verso, em cada coração que ainda se emociona ao ouvir suas canções.
Seus filhos seguiram seu caminho. João Marcelo se tornou um grande produtor e crítico musical. Maria Rita tem a semelhança da força de sua voz - quando canta, sentimos a sua presença em cada nota. Pedro também carrega no sangue o talento e já prestou belas homenagens a você.
"Corujona", como sempre foi, você é avó de 5 netos. Maria Rita teve dois filhos: Antônio, o mais velho, com 20 anos, além de surfista, é modelo fotográfico; e Alice, com 10.
João Marcelo também teve dois filhos: Arthur, de 13 anos, e André, de 8 anos. Já Pedro Mariano só teve uma filha: Rafaela, com 18 anos, que também tem veia artística e já iniciou a carreira de cantora.
A música brasileira sente sua falta. O cenário mudou, muitos teatros foram vendidos para igrejas evangélicas. Até o Teatro Bandeirantes, onde foi palco do seu show "Falso Brilhante", que teve 257 apresentações, com público aproximado de 280 mil pessoas, foi vendido.
A verdadeira arte tem sido desvalorizada, e a cultura, muitas vezes, esquecida. Mas seu legado resiste. Ainda há aqueles que apreciam sua voz, sua coragem, sua história.
A tecnologia avançou a tal ponto que recriaram sua voz com inteligência artificial. Já imaginou? Uma "você", Elis, gerada por máquinas!
E eu fui procurado por um produtor de São Paulo para gravar um projeto com 13 músicas através dessa criação. A duplicação da sua voz chega bem próxima do seu timbre.
A regravação da música "Coração do Agreste", de Moacyr Luz e Aldir Blanc, antes gravada por Fafá de Belém, em 1989, a meu ver, foi a que mais ficou parecida com a sua voz.
Contudo, nada neste mundo pode substituir a verdade da sua interpretação, a força da sua presença.
Confesso que foi extremamente difícil gravar esses duetos, mesmo sabendo que não era você. Por muitas vezes, fui aos prantos e fiquei muito mal emocionalmente, só em pensar que tudo poderia ser realidade, já que conheci muitos dos seus parceiros, que afirmaram que nos daríamos muito bem como amigos.
Tu acredita que a intolerância aumentou demasiadamente? Que tem gente batendo palma pra maluco dançar e pede a volta da ditadura militar?
Eles não imaginam como é ser governado por eles. E muito menos, o que os artistas passaram.
Hoje em dia, homem pode casar com homem, mulher com mulher e ainda pode mudar de nome e de sexo. Já imaginou a perseguição que seria?
Eu nunca fui de fazer campanha política, mas confesso que a sua voz de resistência está fazendo muita falta, principalmente no meio musical. Tem muito peixinho se sentindo tubarão.
É isso, D. Lilica. Vou ficando por aqui. Como sempre digo: não existe final pro que não tem fim.
Grande beijo e até um dia. E saiba: mais do que uma estrela, continue a me iluminar daí.
Você faz muita falta aqui.
Você vive em cada acorde, em cada lembrança, em cada coração que nunca deixou de te amar.
Beijos e beijos,
Casé Henrique
Publicado em 14/02/2025 - por Casé Henrique