A saga de um cachaceiro II
De mim ninguém pode falar
Nunca gostei de beber
Bebo todo dia um pinguinho
Só pra modi não me esquecer
Assim me abre o apetite
Na hora que vou comer.
Cachaça, na segunda nem pensar
Então tomo umas cervejas
Enquanto ligo a vitrola
Pra ouvir música sertaneja
Mas se bebo não dirijo
Não levo a mulher na igreja.
Na terça eu vou na Câmara
Para assistir à sessão
Mas antes eu encho a cara
No Aririú, no Bar do Alemão
Para aguentar nossos vereadores
Só com muita pinga com limão.
Na quarta tô de ressaca
E com muita dor na cachola
Mas saio com minha turma
Para no Palhoção bater uma bola
Acabo enchendo a cara
De whisky com Coca-Cola.
Na quinta estou em pedaços
Então bebo escondidinho
Vou no Supermercado Rosa
Compro uma caixa de vinho
A bebida abençoada
Me deixa quase novinho.
Na sexta não vou trabalhar
Fico no Bar do Paulinho
Quando a noite vai chegando
Confesso que estou bebinho
Confundo Jesus com Genésio
E entro na casa do vizinho.
No final de semana
Só bebo socialmente
Estou com o fígado estourado
E com a boca dormente
Então vou tomar caipirinha
Na casa de algum parente.
O meu pai não bebe mais
Porque não tem mais idade
Mas quando eu vou visitá-lo
Ele volta à mocidade
Me acompanha dia e noite
Pelos bares da cidade.
Um dia desses fui lá
Somente pra visitar
Ele pegou dez caixinhas
E botou para gelar
Aí bebemos tudinho
Nem vimos o tempo passar.
Quando minha tia era viva
A cachaça era repartida
Depois que bateu as botas
Meu tio ficou sem guarida
Não aceitou sua morte
Porque morreu de batida.
Assim vai levando a vida
Sem muita contemplação
Seu sonho é morrer como ela
Em frente à televisão
Assistindo ao Domingão do Huck
Tomando batida com limão.
Já meu filho Genivaldo
Gosta de beber uma coisinha
Aliás, não bebe não
Ele come com farinha
Lambe até o chão do bar
Se derramar uma gotinha.
O Beltrano também bebe
Mas nunca teve revertério
Quando lhe falta inspiração
E começa a falar sério
Nesta semana encheu a cara
No aniversário do Ronério.
“Eita trem bom”, diz o Antônho
Pois tudo que se bebe se mija
Mas deixo aqui um conselho
Pra quem for encher a botija
Se for dirigir não beba
Se for beber não dirija.
Publicado em 13/02/2025 - por Beltrano