A saga de um cachaceiro - Parte I
Eu já vi rico ficar pobre
Já vi negro ficar branco
Já vi homem cambalear
Segurando num barranco
Já vi uma velha senhora
Dormir em cima de banco.
Já vi muito cabra macho
Beber e virar boiola
Já vi garrafa de pinga
Na boca de um rapazola
Triste é ver amigo meu
Beber e usar camisola.
Vi um cara beber pinga
Na hora de beber café
Já vi muito cabra macho
Beber e bater na mulher
Já vi bêbados se enfrentando
Aos socos e pontapés.
Conheci um cabra macho
Que tinha triste mania
Virava um baita boiola
Somente quando bebia
Com o tempo foi gostando
Passou a beber todo dia.
Meu avô me disse um dia
Quando mais novo ele era
Que a coisa mais gostosa
Que desceu em sua goela
Foi um copo de cachaça
Com cravo, limão e canela.
Minha avó também gostava
Num bar lá no Albardão
Bebia um copinho cheio
De cachaça com limão
Depois cuspia e arrotava
Com muita satisfação.
Já meu pai nunca gostou
De tomar a pinga pura
Quando bebia comia
Um pedaço de rapadura
Pra pinga descer suave
E ganhar mais gostosura.
Minha mãe quando bebia
Fazia o maior entreveiro
Do meu pai tinha ciúmes
Por ele ser cachaceiro
Nunca o deixava sozinho
Tomando o Velho Barreiro.
Ela tinha uma anomalia
Quando bebia soltava pum
Papai também soltava gases
Quando estava bebum
Mas isso só acontecia
Quando tomavam 51.
A mamãe escabreada
Nunca pegava no sono
Antes do papai chegar
Entregue ao seu abandono
Porque muito ouvia dizer que
Cu de bêbado não tem dono.
O meu irmão caçula
Era chamado de Bafo de Cana
Começou a beber muito cedo
Lá no meio dos bacanas
Todo dinheiro que ganhava
Gastava no Bar da Brahma.
Minhas irmãs nunca beberam
Mas pra pagar nossos pecados
Casaram-se com os cachaceiros
Mais famosos do povoado
Bebiam no Bar da Dona Maria
De lá saíam com o pé cagado.
A Maricha minha irmã
Casou-se com um cachaceiro
Ele bebe de domingo a domingo
E de janeiro a janeiro
Bebe até pinga de macumba
Na abertura de terreiro.
De mim ninguém pode falar
Nunca gostei de beber
Bebo todo dia um pinguinho
Só pra modi não me esquecer
Assim me abre o apetite
Na hora que vou comer.
Cachaça, na segunda nem pensar
Então tomo umas cervejas
Enquanto ligo a vitrola
Pra ouvir música sertaneja
Mas se bebo não dirijo
Não levo a mulher na igreja.
Continua na próxima edição
Publicado em 06/02/2025 - por Beltrano