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Beltrano - Edição 972

Mandou chamar dois capangas:
“Façam uma gaiolão estreito
Façam isto com cuidado
Quero o serviço bem feito 
Com uma argola bem forte,
Pra pegar este sujeito”.

“Quando acabar de fazer
Mande este bandido entrar,
Para dentro do gaiolão
E acabem de amarrar
O levem lá na Pedra Branca,
Para lá de cima jogar”.

Os homens eram dispostos
Pegaram o Maneca no mesmo dia,
E entrou no gaiolão
Pois era o jeito que havia
Botaram o gaiolão numa carroça
E saíram nas montarias.

Adiante disse um capanga:
Cansou de carregar o rojão,
“Eu estou muito cansado,
Botemos isso no chão!
Vamos tomar uma pinga,
Deixemos aqui o gaiolão”.

Quando os capangas seguiram
Ele cá ficou dizendo:
“Não caso porque não quero,
Me acho aqui padecendo...
A moça é milionária
O resto eu bem compreendo”.

Foi passando um boiadeiro
Quando ele dizia assim,
O boiadeiro pediu-lhe:
“Arranje isto pra mim
Não importa que a moça
Seja boa ou seja ruim”.

O boiadeiro lhe disse:
“Eu dou-lhe de mão beijada,
Todos os meus pertences
Vão aqui nessa boiada...
Fica o senhor como dono,
Pra seguir minha jornada”.

Maneca, condenado à morte
Não fez questão, aceitou,
Desceu do tal gaiolão
E o boiadeiro entrou
Antes de sair correndo
O gaiolão se fechou.

Maneca, quando se viu livre,
Daquela grande enrascada,
Montou num bom cavalo
E tomou conta da boiada,
Saiu por ali dizendo:
“Pra mim, não falta mais nada”.

Os capangas nada viram
Porque fizeram ligeiro,
Pegaram o dito gaiolão
Com o pobre do boiadeiro
Jogaram da Pedra abaixo
Não sobrou um osso inteiro.

Fazia dois ou três meses
Que Maneca negociava
A boiada que lhe deram
Cada vez mais aumentava
Um dia foi ele passar,
Onde Eleodoro morava...

Quando Eleodoro o viu
De susto, empalideceu;
“Compadre, por onde andavas
Que agora me apareceu?!
E segundo o que me parece,
Estás mais rico do que eu”.

“Aqueles seus dois capangas
Me jogaram num lugar
Eu rolei pela Pedra abaixo
Até no primeiro patamar
Encontrei o tesouro da Pedra Branca,
Que nossos pais viviam a contar.”

“Quando me faltar dinheiro
Eu prontamente vou ver.
O que eu trouxe não é pouco,
Vai dando pra eu viver
Junto com a minha família,
Vou passar bem até morrer.”

“Compadre, a sua riqueza
Sabes fui eu que te dei!
Pra você me recompensar 
Tudo quanto lhe arranjei,
É preciso que me bote
No lugar que te botei”.

Disse-lhe o Maneca: “Pois não,
Estou pronto pra lhe mostrar!
Eu junto com os capangas
Nós mesmos vamos levar
E o gaiolão da Pedra Branca abaixo
Sou eu quem quero empurrar”.

O Maneca foi procurar
Dois cabras de confiança
Fingindo-se satisfeito
Fazendo a coisa bem mansa
Só assim ele podia,
Levar avante a vingança.

Saíram com o Eleodoro
Na carreira, sem parar
Subiram a Pedra Branca
Até o último patamar
De lá soltaram o gaiolão
Deixando o velho rolar.

Eleodoro foi pensando
Em encontrar todo dinheiro,
Porém, aconteceu com ele
O mesmo que com o boiadeiro,
Pois quando chegou lá embaixo
Não tinha um osso inteiro.

Esta história nos mostra
Que a ambição não convém
Todo homem ambicioso
Nunca pode viver bem,
Arriscando o que possui
Em cima do que já tem.

Cada um fazendo por si,
Eu também farei por mim!
É este um dos motivos
Que o mundo está ruim,
Porque estamos cercados
De homens que pensam assim.

Adaptação do texto de: 
Leandro Gomes de Barros



Publicado em 28/11/2024 - por Beltrano

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