Histórias que Palhoça Conta – Parte II
Continuação: O cavalo que cagava dinheiro e o tesouro da Pedra Branca
Disse o Maneca pra mulher:
“Faça o trabalho direito
Pegue esta bexiguinha
Amarre em cima do peito
Pro conorele não desconfiar,
Faça o trabalho direito”!
Quando Eleodoro apareceu
Na curva lá da estrada,
Maneca soltou um grito:
“Morre, sua desgraçada”!
E na frente de Eleodoro,
Ele lhe deu uma facada.
A facada calculada
Arrebentou a bexiguinha
E a mulher ficou lavada
Com o sangue da galinha
Maneca gritou: “Morre, danada
Nunca mais comes farinha”!
Eleodoro gritou pra ele
Quando viu a mulher morta:
“Esteja preso, bandido!
E tomou conta da porta
Disse o Maneca: “Vou curá-la!
Só porque o senhor se importa”.
“Maneca, tu és bandido
Infame de cara dura
Todo mundo apreciava
Esta infeliz criatura
Depois dela morta,
Tu ainda diz que tem cura?”
“Compadre, não admito
O senhor dizer mais nada,
Não é crime se matar
Sendo a muié malicriada
E menos de dez minutos,
Eu dou minha véia curada.”
Correu, foi pegar a gaita
Começou logo a tocar
De repente, Eleodoro viu
A mulher se endireitar
Depois, ela disse: “Estou boa,
Já posso me levantar...”.
Eleodoro ficou surpreso
De ver a mulher curada,
Porém, como estava vendo
Ela muito ensanguentada
Correu até ela, mas não viu
Nenhum sinal de facada.
O Maneca, entusiasmado
Disse: “Isso já aconteceu
Quando esta gaita estava
Na mão de quem me vendeu,
Por lá, já fez muitas curas
Em gente que já morreu”.
“No lugar onde eu estiver
Não deixo ninguém morrer,
Como adquiri esta gaita
Muita gente quer saber
Mas ela me é tão cara
Que nem convém lhe dizer”.
Eleodoro, que tinha vindo
Somente propor questão
Porque o cavalo velho
Nunca cagou um tostão
Quando viu a tal gaita
Quase morreu de ambição.
“Compadre, você desculpe
De eu ter tratado assim
Porque agora estou certo
Eu mesmo fui o ruim
Porém, a sua gaita
Vai servir bem para mim.”
“Como eu sou um homem
De muito grande poder
E tu sendo um homem pobre
Ninguém vai te proteger
Perca o amor a essa gaita...
Responda se queres vender.”
“Porque a minha mulher
Também é muito estouvada
Se eu comprar esta gaita
Dela não suporto mais nada
Se quiser teimar comigo,
Eu também lhe dou uma facada.”
“Ela, ao se ver quase morta
Já conhece o castigo,
Mas eu, com esta gaita,
Salvo ela do perigo
Ela, daí por diante,
Nunca vai mais teimar comigo.”
Disse-lhe o Maneca:
“O senhor faz muito bem,
Quer me comprar a gaita
Não venderei a mais ninguém
Custa seis contos de réis,
Por menos nem um vintém”.
Pagou a gaita e correu
E foi mostrar para mulher!
A velha zangou-se e disse:
“Vá mostrar a quem quiser!
Eu não quero ser culpada
Do prejuízo que houver”.
“Tu és mesmo um velho
Avarento e interesseiro,
O que já fez do seu cavalo
Que defecava dinheiro?
Meu velho, dê-se respeito,
Não seja tão embusteiro”.
Ele findou as palavras
A velha ficou teimando,
Disse ele: “Velha dos diabos
Você ainda está falando?”
Deu-lhe quatro punhaladas
E ela foi se passando...
Eleodoro, muito ligeiro
Foi buscar a gaitinha,
Ele tocava e dizia:
“Acorde, minha velhinha”.
Porém, a pobre da velha,
Nunca mais comeu farinha.
Eleodoro estava pensando
Que sua mulher retornava
Ela acabou de morrer
Porém, ele duvidava
Depois é que percebeu
Que a gaita não prestava.
Eleodoro dizia, chorando:
“Este crime, hei de vingá-lo
Seis contos desta gaita
Com outros seis do cavalo
Maneca não vai enganar mais ninguém,
Porque pretendo matá-lo”.
(Continua na próxima edição)
Publicado em 22/11/2024 - por Beltrano