Histórias que Palhoça Conta – Parte I
O cavalo que cagava dinheiro e o tesouro da Pedra Branca
No bairro da Cova Funda
Antigamente existia
Um senhor dono de terras
Que com nada se satisfazia
Com inveja, desejava possuir
Tudo o que seu olho via.
Esse fazendeiro era compadre
De um pobre muito atrasado
Que morava em suas terras
Num rancho “mali” acabado
E sustentava a família
Com a vida de alugado.
Vendo-se o pobre Maneca
Naquela vida privada
Foi trabalhar num engenho
Lá na praia da Guarda
Na volta, trouxe um cavalo
Que não servia pra nada.
Disse o Maneca à mulher:
“Como havemos de passar?
O cavalo é magro e velho
Não pode mais trabalhar
Vou inventar um ‘pregueço’
Pra que alguém possa comprar”.
Foi na venda do seu Dico
E pediu dinheiro emprestado
Sem dizer nada a ninguém
Para não ser censurado
No rabisteco do cavalo
Deixou seu tesouro guardado
Do fiofó do cavalo
Ele fez um mealheiro
Saiu dizendo: “Sou rico,
Ainda mais que o fazendeiro,
Porque possuo o cavalo
Que pra mim caga dinheiro”.
Quando o fazendeiro Eleodoro soube
Que Maneca tinha o dito cavalo
Disse pra mulher, com esperteza:
“Amanhã vou visitá-lo
Se o animal for assim mesmo
Dou um jeito de comprá-lo”.
Chegou saudando o compadre
Fingindo-se desinteressado:
“Compadre, como é que vai?
Por onde tu tens andado?
Há dias que não te vejo
Parece que de vida tens melhorado...”
“É muito certo, compadre
Ainda não melhorei
Porque andava por fora
Faz três dias que cheguei
Mas breve farei fortuna
Com o cavalo que comprei”.
“Se for assim, meu compadre
Você está muito bem!
É bom guardar o segredo,
Não conte pra mais ninguém.
Conte apenas para mim
O que este cavalo tem?”
Disse o Maneca: “Ele tá magro
Só no osso e no couro,
Porém, tratando-se dele
Meu cavalo é um tesouro
Basta dizer que defeca
Níquel, prata, cobre e ouro”.
Aí chamou o Eleodoro
E saíram esgatiados,
Para o lugar onde tinha
O cavalo defecado
Chegando lá, encontraram
Três moedas de cruzado.
Então, exclamou Eleodoro:
“Só vejo apenas três”.
Disse o Maneca: “Ontem à tarde
Ele botou dezesseis!
Ele já tem defecado,
Dez mil réis de uma vez”.
“Enquanto ele estiver magro
Me serve de companheiro.
Eu tenho tratado dele
Com bagaço do terreiro,
Porém, depois dele gordo
Vou ganhar muito dinheiro”.
Disse o velho: “Meu compadre
Você não pode tratá-lo,
Se for trabalhar com ele
Vai com certeza matá-lo
O melhor que você faz
É vender esse cavalo”.
“Meu compadre, este cavalo
Eu posso inté negociar,
Só se for por uma soma
Que dê para eu passar
Com toda minha família,
E não precisar trabalhar”.
Eleodoro disse ao Maneca:
“Não é assim que se faz
Nossa amizade é antiga
Desde os tempos de nossos pais
Dou-te seis contos de réis
Achas pouco ou queres mais?”
O velho, pela ambição,
Que era descomunal,
Deu-lhe seis contos de réis
Todo em moeda legal
Depois, pegou no cabresto
E foi puxando o animal.
Quando chegou em casa
Foi gritando no terreiro:
“Eu sou o homem mais rico
Que habita o mundo inteiro!
Porque possuo um cavalo
Que só defeca dinheiro”.
Pegou o dito cavalo
Botou na estrebaria,
Milho, farelo e alfafa
Era o que ele comia
O velho fazendeiro ia lá,
Dez, doze vezes por dia...
Aí Eleodoro zangou-se
Começou logo a brandar:
“Como é que o compadre Maneca
Se atreveu a me enganar?
Eu quero ver amanhã
O que ele vai explicar”.
Porém, o compadre Maneca,
Bicho do quengo lixado
Fez depressa outro plano
Ainda mais bem arranjado
Pra esperar o Eleodoro
Quando viesse zangado...
Foi na venda do seu Dico
Comprou uma bexiguinha
Depois mandou enchê-la
Com sangue de uma galinha
E sempre olhando a estrada
Pra ver se o fazendeiro vinha.
Continua na próxima edição
Publicado em 14/11/2024 - por Beltrano