Ditados e histórias populares que Palhoça conta
Ditados populares, nem tão populares assim:
Quem com ferro fere... não sabe como dói.
Sol e chuva... vou sair de guarda-chuva.
Em casa de ferreiro... só tem ferro.
Devo, não pago... nego enquanto puder.
Quem tem boca... vai ao dentista.
Gato escaldado... morre.
Quem espera... sempre cansa.
Quando um não quer... o outro insiste.
Os últimos... serão desclassificados.
Há males... que vêm para pior.
Se Maomé não vai à montanha... então vai à praia.
A esperança e a sogra... as últimas que morrem.
Quem dá aos pobres... paga a conta do motel.
Depois da tempestade... vem a gripe.
Devagar... nunca se chega.
Antes tarde... do que mais tarde.
Boca fechada... não fala.
Águas passadas... já passaram.
Em terra de cego... quem tem um olho é caolho.
Quem cedo madruga... fica com sono o dia inteiro.
Seu Leotério, o prevenido
Seu Leotério, pescador antigo da Barra do Aririú, faleceu de câncer em 2005. Descobriu a doença na primeira vez em que foi a um médico, pois andava sentindo-se mal das pernas há um tempão.
O médico, depois de um exame detalhado, olhou seu Leotério nos olhos e disse:
– Tenho más notícias. O senhor está com câncer e não tem cura. Eu lhe dou de duas a quatro semanas de vida.
Seu Leotério, chocado e triste, mas de caráter forte, recuperou-se rapidamente e saiu do consultório do médico. Na sala de espera, encontrou seu filho, Manuelzinho, que lhe aguardava.
– Filho – diz seu Leotério. – Nós, da Barra, fazemos piada e comemoramos quando as coisas estão boas, mas também quando não estão. Estou com câncer e tenho pouco tempo de vida. Vamos ao bar tomar uns martelinhos.
Depois de alguns copos, já alegres, eles davam risadas. E dá-lhe martelinho misturado com bitter. Uns amigos chegam ao bar e perguntam o motivo daquela alegria toda. Seu Leotério repete a história da comemoração, dizendo que está com Aids. Os amigos ficaram consternados, e em solidariedade, acabaram tomando uns martelinhos com ele, mas com cuidado para não misturar os copos.
Num momento em que estava perto do doente, o filho fala ao ouvido dele:
– Painho! Você disse pra mim que tava com câncer, mas para eles o pai disse que está com Aids.
Seu Leotério olhou discretamente em volta antes de responder baixinho:
– Eu tô com câncer memo, fio. Eu só não quero é esse pessoal comendo a tua mãe depois que eu bater as botas!
A mula morta
O Juca do seu Lindolfo era morador antigo da Guarda do Cubatão. Numa ocasião, encontrava-se com sérios problemas financeiros. Para sair da pindaíba, vendeu o único bem que lhe restava, uma mula, para o Valdemar, um agricultor muito vivo e afamado por fazer bons negócios, por 100 cruzeiros, concordando que receberia no outro dia a dita mula.
Entretanto, no dia seguinte, o Juca chegou para o Valdemar e disse:
– Cumpadi da minharma, cê me discurpa mais a mula bateu com a cola na cerca.
– Morreu?
– Morreu.
– Intão me devorve o dinheiro.
– Ih... já gastei.
– Tudo?
– Tudinho.
– Intão me tragi a mula.
– Morta?
– É, uai. Vou rifá.
– Rifá?!
– É, uai!
– A mula morta?! Quem vai querê?!
– É só num falá qui a bichinha morreu.
Um mês depois, os dois se encontram na venda e o Juca pergunta para o Valdemar:
– Ô Cumpadi, e a mula morta?
– Rifei. Vendi 500 biete a dogi Cruzero cada. Faturei 998 Cruzero.
– Eita! I ninguém recramô?
– Só o homi qui ganhô.
– E o que o cê feiz?
– Devorvi os 2 Cruzero prele, ora bolas.
As cabeças dos bichos do Zé Manjuva
Esta aconteceu nos anos 1990, na Passagem do Maciambu, quando o Governo do Estado, através da Fatma, intensificou a fiscalização ambiental na região do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. Certo dia, apareceu na casinha do Zé Manjuva um fiscal da Fatma, que havia recebido uma denúncia e foi verificar.
Chegando na casa do Zé, sem se identificar, o fiscal foi logo travando diálogo:
– Seu Zé Manjuva? Bom dia! Como vai a luta?
– Difírce – disse o Zé, sentado em cima de uma tora de árvore e picando fumo pra fazer um palheiro.
– Tem caçado muito?
– Tenho, a semana passada matei uns 20 periquito.
– Vinte?!
– Fio, alcance as cabeça dos periquito pro homi dar uma bispada – ordena a um de seus nove filhos, enquanto sua mulher, Gertrudes, observava a conversa do marido com o fiscal, debruçada na solera da janela.
– E paca, tem caçado muito?
– Só uma essa simana. Fio, tragi a cabeça da paca.
– E outros animais silvestres, tem caçado?
– Vários deles. Fio, traz as cabeça dos otos bichos pro homi ver com os própro zóio.
O fiscal pensou, pensou e perguntou:
– Não tem passado por aqui nenhum fiscal da Fatma?
– Sim. Na simana retrasada. Fio, tragi a cabeça do fiscali que tá dipindurada no esteio do engenho pro homi ver.
Diz o fiscal:
– Até outro dia, obrigado pela atenção.
– Não tem di quê. Vorte sempre – disse o Zé Manjuva se mijando de tanto rir.
Com vergonha da profissão do pai
Dia desses, numa sala de aula de um colégio particular de Palhoça:
– Pedrinho qual a profissão de seu pai?
– Advogado, fessora.
– E a do seu pai, Marianinha?
– Empresário.
– E o seu, Aninha?
– Ele é Funcionálio da Plefeitula.
– E o seu pai, Juquinha, o que faz?
– Ele... Ele é dançalino numa boate gay lá em Frolianópolis.
– Como assim? – pergunta a professora, surpresa com a resposta.
– Fessora, ele dança na boate vestido de muler, com uma tanguinha minúscula de lantejoulas; os homem passam a mão nele e botam dinheiro no elástico da tanguinha dele e depois saem para fazer programa com ele.
A professora rapidamente dispensou toda a classe, menos o Juquinha. Ela caminha até o garoto e novamente pergunta:
– Menino, o seu pai realmente faz isso?
– Não, fessora. Agora que a sala tá vazia, eu posso falar! Ele é vereador, mas dá uma vergonha falar isso na frente dos outros!
Publicado em 07/11/2024 - por Beltrano