O império político, o eleitor e os três ladrões – Parte II
(Continuação da última edição)
Então, levaram o Manuel
Para o Passa Vinte, sem vida
Botaram dentro da cova
Mas a deixaram desprotegida
De madrugada, altas horas
O eleitor, sem demora
Foi chegando na corrida.
O eleitor já trazia na mão
O seu revólver bem armado
Para atirar no defunto
Porém, ficou espantado
Quando viu, de supetão
Uma cambada de ladrão
Com um saco bem pesado.
O eleitor se escondeu
Pra ver do que se tratava
Um deles pegava o saco
E numa lápide despejava
Como num sinal de agouro
Caiu do saco tanto ouro
Que até morto se espantava.
Dividiram em três quinhões
Numas sacolas de couro
Também tinha uma espada
Toda folheada em ouro
Com as pedras mais faladas
Das que foram fabricadas
Era um verdadeiro tesouro.
Vai um dos ladrões e pergunta:
“Quem fica com esta espada?”
Respondeu o outro: “Eu não quero
É muito grande e pesada
Além disso, é conhecida
E com ela, a minha vida
Vai ficar muito arriscada”.
O outro assim concordou:
“É melhor não ficar com ela
Olhe, ali tem um defunto
Pega lá no cabo dela
Faz o serviço sem dó
Empurra até o gogó
Da bunda até sua goela”.
O Manuel, que estava ouvindo
Os três ladrões conversando
De tanto medo tremia
De febre, ficou queimando
Queimava “quinem” urtiga
Sentia na bunda e na barriga
Aquela espada entrando
Disse um ladrão: “Vamos logo
Vira de bunda o camarada
Vamos furar este trouxa
E enfiar nele a espada”.
Disse outro: “Faça bem feito
Empurre com muito jeito
Pra ficar toda enterrada”.
Quando o político se viu
Naquela hora apertada
Disse lá com seus botões:
“A coisa está encrencada”.
Estrebuchou assombrado
Deu um grito tão bem dado
Que deixou almas alarmadas.
Os ladrões disseram: “Corre,
Esse defunto é excomungado”.
E soltando o corpo correram
Do defunto amortalhado,
Que se levantou ligeiro
E olhando para o dinheiro
Pra ele correu apressado.
O eleitor, quando viu
O político pegando o dinheiro
Disse: “O ouro é todo teu
Porém, me paga primeiro
Nesta mesma ocasião
Ou tu pagas meu quinhão
Ou aqui vai ter tiroteio”.
O eleitor voltou a dizer: “Quero
Que você pague o que é meu
Dá-me ao menos minha parte
Já que o dinheiro agora é teu”.
Os ladrões, que iam voltando,
Ouviram as duas almas brigando
Um deles, de medo, morreu!
Outro disse: “Pelo dinheiro
Estão brigando as almas penadas
Vou me entregar pra polícia
Não entro mais em roubada”.
“Também vou virar crente
Vou virar homem decente
Não quero mais essa parada”.
O político então pagou
O que o eleitor queria
Levou o resto pra casa
Pagou tudo o que devia
Daí ficou descansado
Viveu comendo deitado
E noutra eleição se reelegia.
Pensaram o quê?
Que o político ia levar pau?!
Não esqueça, meu irmão
A história não é ficção
É uma história real!
(Adaptado para o universo palhocense do pasquim da revista Jangada Brasil)
Publicado em 02/09/2021 - por Beltrano