E o bicho vai pegar
Extra! Extra!! Se você está se sentindo sozinho, abandonado, achando que ninguém liga para você, não se desespere: atrase uma prestação ou estoure o limite do seu cartão de crédito que seus problemas acabaram!
Numa sessão da Câmara de uma certa segunda ou terça-feira, o assunto preferido foram os mortos! Aliás, para alguns vereadores, a morte é mais importante do que a própria vida. Tanto é que ao nascermos já sabemos que vamos morrer! Lógico e profundo, embora mais profundo do que lógico! Para defender os direitos dos mortos, os vereadores querem que a Prefa aumente o cemitério do Passa Vinte, que, segundo eles, não tem mais lugar para se cair morto. Os vereadores fazem questão de argumentar que o pedido não é para eles, é para a comunidade. O Antônho do Bidunga, sentado ao meu lado, cochichou no meu ouvido: “Que pena! Se fosse para eles, até eu ia contribuir”. Rá, rá, rá, rá...
Um operário da Prefa me perguntou se eu sabia qual a diferença entre o salário pago para eles e o Figueirense! Não sabe?! É que o Figueirense compra, compra e não ganha uma. Já os funcionários da Prefa ganham, ganham, mas não compram nada!! Rá, rá, rá, rá...
Três meninos conversam na saída do colégio:
- O meu pai é muito rápido, é motorista da Jotur. Vai de Palhoça a Cova Funda com o ônibus em menos de 20 minutos!
O segundo menino discorda:
- Nada disso! O meu pai é que é rápido: ele é corredor de rua e não demora 15 minutos para fazer o percurso a pé do Ponte do Imaruim até a praça!
O último garoto, filho de um conhecido político de Palhoça, não deixa por menos e diz:
- Que nada! Os pais de vocês são umas lesmas, comparados com o meu: ele é cargo de confiança da Câmara, sai do trabalho às 7 da noite e às 4 da tarde já está em casa! Rá, rá, rá, rá...
O Jorge da dona Bilôca é que dizia que os políticos não criam juízo porque não sabem o que ele come, senão já tinham criado! Para a próxima eleição para deputado, senador, governador e presidente, ele sugere que se vote nas putas, porque nos filhos já votamos e veja a zona em que nos meteram!
Na época em que o Dr. Ivo Silveira era prefeito de Palhoça, o Antônho do Bidunga morava em uma casinha modesta no Morretes, no Sul do município. Era pobre que dava dó, seu único bem na vida era sua pequena palhoça; a Genoveva, sua muié; seus sete bigurrilhos; e um touro, que era considerado o melhor reprodutor da região. Os donos de gado e de vacas leiteiras da Baixada do Massiambu, Enseada de Brito e até de Paulo Lopes descobriram a fama do touro e começaram a alugar o bicho para cruzar com suas vacas. Pois do touro do Antônho sempre nasciam os melhores bezerros. Era só colocar uma vaca perto dele e o touro não perdoava uma. A fama do bicho chegou também aos ouvidos do prefeito de Palhoça na época, o doutor Ivo Silveira, que decidiu comprar o reprodutor. Um secretário foi enviado até a casa do Antônho para convencê-lo a vender o bicho:
- Põe preço no seu touro que vamos comprá-lo! O doutor quer o touro pra modi ceder pros fazendeiros e ganha uns votinhos na próxima eleição.
O Antônho, aproveitando a situação, falou um preço absurdo. O secretário não aceitou a proposta e foi se queixar para o doutor Ivo. Este levou por birra e não arredou o pé, mandando comprar o animal com o dinheiro da Prefeitura, registrando o animal como patrimônio da cidade. Então, resolveu fazer uma festa para apresentar o touro para a população. No dia da festa, muitos moradores trouxeram suas vacas para o touro cobrir, afinal, seria tudo de graça, e de graça, naquela época, como hoje, até injeção na língua.
Na hora da primeira vaca, o touro esbravejou, pulou, cheirou a vaca e nada!
- Deve ser culpa da vaca - disse seu Luiz Flor, morador da Guarda do Cubatão. - Ela é muito magra!
Trouxeram uma vaca holandesa, a mais bonita da fila, que pertencia ao seu Joça Elias, proprietário de um açougue no Alto Aririú. O touro esbravejou, pulou, cheirou a vaca e nada!
O doutor Ivo já estava puto dos cornos. Chamou o Antônho e perguntou o que estava acontecendo.
- Não sei - disse o Antônho. - Ele nunca fegi isso antis! Dexa comigo qui eu vou dá um dedinho de prosa com ele.
Antônho se aproximou do bicho e perguntou:
- O qui há com tu? Não tás magi a fim de trabalhar?
E o touro, dando uma espreguiçada, respondeu:
- Não me enche o saco! Agora eu sou funcionário púlico.
Estou indo. Se eu fosse um passarinho, te levaria voando, mas como não sou, é melhor ir andando. Depois eu vou!
Publicado em 15/04/2021 - por Beltrano