O político e o eleitor
Estava eu e o Antônho
Conversando animadamente
Na Praça Sete de Setembro
Quando chegou de repente
Um pré-candidato a vereador
Bem trajado e inteligente.
Antes que contasse balela
Me disse o Antônho, sem cautela:
“Vai encher o saco da gente”.
O candidato cumprimentou
Quem jogava dominó, primeiro
Depois perguntou pro Antônho:
“Por onde andas, companheiro?
Sou candidato a vereador
Pra me eleger tenho dinheiro
Pra provar que sou legal
Meu tratamento é igual
Pra doutor ou cachaceiro”.
Eu me meti e disse:
“Que dinheiro, camarada?
Quero ver você cantar
Uma trova bem cantada
Se queres nosso respeito
É melhor pedir direito
Senão, daqui não levas nada”.
Porém, eu vou dar o tema
Com estilos naturais
O Antônho vai trovar
Com bases fundamentais
Vai dizer no fim da rima:
“Não voto, não elejo mais”.
Você, candidato, responde
Pra se ouvir e bem se ver
Defendendo essa política
Sempre, enquanto viver
Dizendo no fim do verso:
“Sou candidato até morrer”.
Antônho:
Meu prezado candidato
Sou cachaceiro com prazer
Deus me livre me candidatar
Para ver o povo sofrer
Me eleger também não uso
Pois nada de bom me traz
De política tenho abuso
Desde que era rapaz
Quase que a política me liquida
E enquanto Deus me der vida
Não voto, não elejo mais.
Candidato:
Você é muito inocente
A política é uma beleza
Deixa a pessoa contente
Se eleger tira a tristeza
É um copo de aguardente
Que ao homem dá prazer
Com o pensamento profundo
Atente ao que vou dizer
Enquanto eu viver no mundo
Sou candidato até morrer.
Antônho:
Política não me convém
Pegue suas coisas e suma
Pois a pessoa que vota
Na vida nunca se apruma
O eleitor que pensa bem
Miséria pra si não traz
Eu decidi neste instante
Que de agora em diante
Não voto, não elejo mais.
Candidato:
Faço política todo dia
Vou enrolando numa boa
Meto o povo numa fria
Minha lábia não enjoa
Quatro anos na mamata
E consigo me reeleger
Pra continuar nessas férias
Sou candidato até morrer.
Antônho:
Você assim vai entrando
No caminho da perdição
Do mandamento sagrado
Não obedece a lição
Tua vida é um pecado
Dás é gosto a Satanás
Eu que conheço a verdade
Até pela minha idade
Não voto, não elejo mais.
Candidato:
Diz a Bíblia sagrada
Que Jesus montou um jumento
Transformou água em vinho
E mudou o pensamento
Também ele fez politicagem
Oferecendo fé pra viver
Com meus milagres na bagagem
Eu vou seguindo viagem
Sou candidato até morrer.
Antônho:
Política é coisa feia
É viver se consumindo
No cimento da cadeia
Devias ficar dormindo
Traz desonra pra família
Põe vergonha nos seus pais
Por causa da roubalheira
E por levar o povo na coleira
Não voto, não elejo mais.
Candidato:
Triste é o homem decente
Que pelo poder não se embriaga
Sei que sou aproveitador
E da sociedade uma praga
Mas vivo engolindo sapo
Para poder me eleger
Participo até desse repente
Me misturo com essa gente
Pra ser candidato até morrer.
Beltrano:
A trova estava esquentando
Nela resolvi botar o bedelho
Se assim eu não fizesse
Continuariam ali o dia inteiro
Pra trova eu dei um empate
Pra ninguém dei regalia
O candidato continuou na praça
E nós fomos beber uma cachaça
Lá no bar da dona Maria.
Publicado em 23/07/2020 - por Beltrano