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Beltrano - Edição 742

 

 

As doenças de antigamente e a pandemia de hoje

 

O mundo em desespero
Pânico pra todo lado
Um vírus está deixando
O planeta infectado
O assunto virou manchete
E deixa o povo apavorado.

Coronavírus é o nome
Teve início no Oriente,
Começou lá na China
Deixou o mundo doente
Como rastro de pólvora
Tem matado muita gente.

Eu já ando com saudade
Das doenças do passado
Tratadas com chá de ervas
Quando estávamos empalamados
Tomávamos remédios caseiros
Logo ficávamos curados.

Vou contar neste pasquim
Como o mundo, hoje, mudou
A começar pelas doenças
Que o mundo transformou
Moléstias que foram embora
Um mal que muito incomodou.

Quando eu era criança
Sempre fui um empalamado
Pra vocês terem uma ideia
Tive mil ossos quebrados
Sem falar em asma e bronquite
Azedume, estômago embrulhado.

Sangue fraco, tosse de cachorro
Bicho-de-pé, picada de maruim
Hemorroida, dor no rabo
Pra nervo torto, chá de alecrim
Nunca vi tanto problema
Tanta doença ruim assim.

Tive ar, paralisia no rosto
Disseram ser “estremilique”
Um ardume nas partes
Me deixou sem apetite
Chorei até me afinar
Quando tive sinusite.

Dor no muque era coisa triste
Deixava a gente arriado
Não dava pra mexer um músculo
Ficava encolhido, encarangado
Se me dava ataque de bicha
Ficava “moloide”, estropiado.

Se hoje temos a Covid
Zica e outros perrengues
Quando eu era pequeno
Nunca ouvi falar em dengue
Mas tive trisa, o amarelão
Que me fez ficar molengue.

Tive a doença do macaco
Que me impedia de crescer
Por mais que me dessem comida
Não adiantava comer
Era bicha, a solitária
Que fazia emagrecer.

Nasci com a moleira mole
Que me deixou com tremedeira
Por andar com o pé no chão
Meus pés eram só frieira
Vivia com diarreia, 
Pra não dizer caganeira.

A caganeira era comum
E causava nó nas tripas
Dor no estômago e gastura
Me deixou magro feito ripa
Vivia com ranho no nariz
Posto de saúde? Só em Floripa.

Mesmo assim, tenho saudade
Do tempo da trisa e da seborreia
Muito ronco ao dormir
Hoje em dia é apneia
Eu era feliz e não sabia
Doença de rua? Só gonorreia.

O furúnculo era uma apostema
Que percorria o corpo
Numa época específica 
Também tive nervo torto
Dor de dente e de barriga 
Causava muito desconforto.

Anemia, asma e conjuntivite
Em mim não causavam alarde
Diziam: o que aperta, segura
E tudo que cura arde,
E as doenças de crianças
Mais valia antes do que tarde.

A criançada sofria
Com zipra e tosse cumprida
Sapinho, chamado boqueira
Bicho-de-pé e espinhela caída
Sem falar no apianço
Quebrante, íngua e ferida.

Muitas dessas doenças
Eram tratadas a garrafada
Uma mistura de ervas
Que as deixava curadas
Era feita por benzedeiras
Guiadas por mão sagrada.

O fastio fechava a boca
Ninguém tinha pé de atleta
Hoje em dia, pra doença
Os médicos dão o alerta
Pra evitar gordura e inchaço
O fastio virou dieta.

Antigamente era assim:
Salapismo, a gente usava
Pra fazer um curativo
Quando malecho se ficava
Só depois batia uma chapa
Pra saber do que se tratava.

Bastava um bicho berne
Pra ficar acachapado
Se ficava meio banzo
Com o caroço alojado
Um bichinho tão pequeno
Podia deixar entrevado.

Pra “queimor no estômago”
O remédio era o azeite
Ter congestão era normal
Não há quem receite
A congestão era causada
Ao comer melancia com leite.

Vivia-se com o ovo virado
Vomitávamos até o bucho
Pra ver o estômago limpado
A gente dormia de bruços
Depois de acordar curado
O problema era o soluço.

A alergia era coceira
Causada pelo cobreiro
O danado do esporão de galo
Se pegava no galinheiro
Pra verruga, o remédio
Era visitar um benzedeiro.

Vivia-se com grande dor
Quem tinha o “figo” ofendido
Batia o suor e a vermelhidão
Além de zumbido no ouvido
Pra piorar, não se defecava
Vivíamos sempre entupidos.

Ficar só no espinhaço
Significava magreza
Dor no “zóio”, “nuviamento”
Catarata ou vista presa
Depressão era pra rico
Caduquice pra pobreza.

Tinha doença feito gota
Sem cheiro, nariz entupido
Doença do rato, dor na junta
Unheiro, asma e osso torcido
Mal jeito no espinhaço
Catarro, peito doído.

Na época, todo vivente
A malária evitava
Junto com tuberculose e meningite
Que muita gente matava
E com a catapora e o sarampo
Todo mundo se assustava.

Entre as doenças ruins
A caxumba eu destaco
Era a mais doída delas
Deixava o sujeito fraco
Ainda mais quando a doença
Recolhia para o saco.

Cansaço e dor no peito
Eram sintomas do coração
Como se achava que não doía
Botávamos a culpa no pulmão
Mas quem sentia mais dor de cabeça
Era meu amigo Orildo Cabeção.

Para a pandemia da Covid
Não existe uma vacina
Querem colocar goela abaixo
Esta tal de cloroquina
Para que, a exemplo dos respiradores
Eles possam cobrar propina!

Hoje, em casa, em quarentena
Uso máscara e álcool gel
Para não pegar essa doença
Que pode me levar pro céu
Me isolei do mundo em casa
Pra não ir pro beleléu! 



Publicado em 04/06/2020 - por Beltrano

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