A corda sempre arrebenta do lado mais fraco
O meu nome é Beltrano
E dizem que sou valente
Não gosto de covardia
Sou um cara consciente
E através da poesia
Toda hora, a cada dia
Dou com a língua nos dentes.
Palhoça é minha pátria
Terra onde me criei
Berço de minhas andanças
Aqui, quem tem um olho é rei
E digo uma coisa pra ti:
Tudo que eu vi aqui
Em muito não acreditei.
Educação, saúde, é importante
Palhoça quer garantia
O político quer o eleitor
Que faz a sua alegria
Mas uma cidade sem cultura
E político sem compostura
É como um cego sem guia.
Mas deixemos isso de lado,
Falemos da vida obreira
Do pequeno trabalhador
Do seu mundo de canseira
Que ainda faz sorriso
Imaginando o paraíso
Vivendo desta maneira.
Sua festa é um boteco;
Seu lazer, uma proseada;
A sua roupa de missa
Costuma ser bem guardada
E geralmente é aquela
Lavada em água de barrela
E que é menos remendada.
Seu guarda-roupa é cabide;
Sua poltrona, o batente;
Sua morada, um casebre
Faltando a porta da frente;
Sua alegria, o estudo
Que considera sortudo
Por dar ao filho inocente.
À margem da sociedade
Vive no anonimato;
Seu cinturão, uma tira;
Sandália de dedo é sapato;
Seu medicamento é o chá
Que da terra arranca a pá
Das folhas e raiz do mato.
O seu tema de conversa
O coronavírus - a perdição,
A escassez do dinheiro,
Inverno, chuva e verão,
Contrariando a estória da novela
Que vê à luz de vela
Quando liga a televisão.
Na sua casa de um cômodo;
Um bico de luz emprestado;
O fogão que está sem gás;
Faz fumaça no telhado,
Seu cachorro, o companheiro
Que mesmo na falta de dinheiro
Dorme feliz ao seu lado.
Sua iluminação de rua é relâmpago;
A lama na estrada é a judiação,
O vento é o ventilador;
Seu lenço, as costas da mão;
Seu carteiro, um motoqueiro
Que todo fim de mês chega ligeiro
Pra cobrar a prestação.
Seu terreiro é o mangue,
A vida, na maré atolada;
Seu despertador, os pássaros
Que cantam na madrugada;
Seu descanso, uma pobre cama
Que divide com uma dama
Doente e mali-acabada.
Por isso peço aos políticos
Que pretendem vencer esta eleição,
Visitem as comunidades,
Dos pobres tenham compaixão
Nossa cidade é de cimento
Mas não é só de calçamento
Que vive a sua população.
Queremos políticos zelosos,
Com emoção e prazer,
Que possuam compromisso
E usem todo o poder
Pra ajudar nessa luta
Pregando paz e conduta
Para o povo melhor viver...
Este cidadão contumaz
Mexe com os brios meus
Faz do problema incentivo
Para os compromissos seus,
Porque maior do que tudo
É ouvir o lamento agudo
Da fé que tem em DEUS.
Publicado em 09/04/2020 - por Beltrano