Homenagem póstuma ao seu Didi: o peão palhocense
Foi no final dos anos 1970
Que em Palhoça aderiu à tradição
O tradicionalismo gaúcho
Confunde-se com a história do velho peão
Seu gosto pela vida campeira
Surgiu da inspiração verdadeira
Trazida de outro rincão.
Seu nome: Eduardo Alfredo Schutz
Ou simplesmente Didi - o velho patrão
Nos fios de seu bigode branco
A história dessa tradição
E da cultura do gaúcho
Que vive uma vida sem luxo
Fazendo da lida, uma profissão.
Pegou muito gado a unha
E boi brabo pela guampa
Fincou as esporas na terra
Cavalgou por nossos pampas
Ensinando aos seus guris
Porque o Criador assim quis
Que fosse de fina estampa.
Ao encilhar seu cavalo
Nele botava o arreio
Uma cela de couro apertada
Em sua boca um bom freio
Fosse pra tocar a vacaria
Na lida do dia a dia
Ou de rodeio em rodeio.
Cada troféu, uma história
Um sopro de vento no pago
De pilcha, faca, chapéu de couro
Na boca, o doce do mate amargo
Da velha cuia de chimarrão
Daquele pedaço de chão
Onde seu CTG foi montado.
Cavalgou pela vida afora
Sem nunca perder o embalo
O lenço quadrado no pescoço
E nas mãos um monte de calo
Numa mão, a rédea sublime
Na outra, o laço no pulso firme
Em sintonia, homem e cavalo.
Dormiu debaixo de ramada
Nos pelegos e na esteira
Carregou a vida na garupa
De uma mula ligeira;
Se aqueceu com o fogo de chão
Uma cuia de chimarrão
E uma moda campeira.
No velho peão palhocense
Via-se a representação do peão
Que em suas cavalgadas
Conheceu todo o sertão
Sentia nele também a saudade
Da nossa velha cidade
Que vivia em seu coração.
Nem o rastro achava da Porteira
Lá da sua velha Encruzilhada
Onde se via grande movimentação
E onde hoje não se vê mais nada
Nem o velho pé de pinheiro
Nem os amigos boiadeiros
Que ficaram ao longo da estrada.
Olhava ao longe sobre os ombros
Bengalando saudoso e calado
Às vezes parava de sorrir
Com saudade do Pintado
Seu cavalo e bom companheiro
Que ainda sentia na pele seu cheiro
Do galope e do andar troteado.
Dizia que era um cavalo inteligente
Deixava outros peões espantados
Fazia o que comandava
Sem precisar ser instigado
Evitava qualquer tranqueira
E sempre parava na sinaleira
Se o sinal estivesse fechado.
Falava do cavalo com respeito
Com ele pela vida cavalgou
“Melhor cavalo que tive
Foi uma cobra que o matou”
Pra ele tirava o chapéu
Então via seu cavalo no céu
Na lembrança que nunca apagou.
Não esquecia de seu outro cavalo
Orgulho maior de seu potreiro
Tinha uma relação bem estreita
O tratava como companheiro
Com ele troteou pela vida afora
Sem precisar usar esporas
No cavalo que chamava de Maconheiro.
Viu crescer a tradição gaúcha no CTG
Porteira da Encruzilhada Palhocense
Agora foi cavalgar no céu
Que os anjos lhe compensem
Por ter sido um grande ser humano
Partiu com bem vividos 83 anos
Sendo orgulho da tradição gaúcha catarinense.
Didi foi cavalgar nos pagos do infinito
Pelo Patrão Maior será abençoado
Deixou o plano terreno pra virar lenda
Depois de todos nós ter conquistado
Que Deus e os anjos o recebam no céu
E que de pilcha, botas, lenço e chapéu
Continue cavalgando no seu cavalo alado!
Publicado em 12/09/2019 - por Beltrano