Beltrano - Edição 674
Didi: o peão palhocense
Foi no final dos anos 1970
Que em Palhoça começou a tradição
O tradicionalismo gaúcho
Confunde-se com a história do velho peão
Seu gosto pela vida campeira
Surgiu da inspiração verdadeira
Trazida de outro rincão.
Seu nome, Eduardo Alfredo Schutz
O Didi - o velho patrão
Nos fios de seu bigode branco
A história dessa tradição
E da cultura do gaúcho
Que vive uma vida sem luxo
Fazendo da lida, uma profissão.
Pegou muito gado a unha
E boi bravo pela guampa
Fincou as esporas na terra
Cavalgou por nossos pampas
Ensinando aos seus guris
Por que o Criador assim quis
Que fosse de fina estampa.
Ao encilhar seu cavalo
Ia nele botando o arreio
Uma cela de couro apertada
Em sua boca um bom freio
Fosse pra tocar a vacaria
Na lida do dia a dia
Ou de rodeio em rodeio.
Cada troféu, uma história
Um sopro de vento no pago
De pilcha, faca, chapéu de couro
Na boca o doce do mate amargo
Da velha cuia de chimarrão
Daquele pedaço de chão
Onde seu CTG foi montado.
Cavalgou pela vida afora
Sem nunca perder o embalo
O lenço quadrado no pescoço
E nas mãos um monte de calo
Numa mão, a rédea sublime
Na outra, o laço no pulso firme
Na sintonia entre homem e cavalo.
Dormiu embaixo de ramada
Nos pelegos e na esteira
Carregou a vida na garupa
De uma mula ligeira;
Se aqueceu com o fogo de chão
Uma cuia de chimarrão
E uma moda campeira.
Hoje já um pouco cansado
Pois esteve uns dias doente
Mas como não é homem de manha
Está quase inteiro novamente
E esbanjando força e energia
E a herança do gaúcho: a simpatia
Em sua fazendola recebeu a gente.
Serviu uma saborosa costela
E comida de forno à lenha
Relembramos as coisas do passado
Da vida me fez uma resenha
Me mostrou sua vida campeira
Onde vive com sua companheira
No interior de Paulo Lopes, lá em Penha.
No velho cowboy palhocense
Ainda vive aquele peão
Que em suas cavalgadas
Conheceu todo o sertão
Senti nele a saudade
Da nossa velha cidade
Que vive em seu coração.
Nem rastro acha mais da Porteira
Lá na velha Encruzilhada
Onde se via grande movimentação
E onde hoje não se vê mais nada
Nem o velho pé de pinheiro
Nem os amigos boiadeiros
Que ficaram ao longo da estrada.
Olha ao longe sobre os ombros
Bengalando saudoso e calado
Às vezes para de sorrir
Com saudade do “pintado”
Seu cavalo e bom companheiro
Que ainda sente no vento, o cheiro
Do galope e do seu andar troteado.
Diz que era um cavalo inteligente
Deixava outros peões espantados
Fazia o que comandava
Sem precisar ser instigado
Evitava qualquer tranqueira
E sempre parava na sinaleira
Se o sinal estivesse fechado.
Fala dele com respeito:
“Era pau pra toda obra
Melhor cavalo que tive
Morreu de mordida de cobra
Lá onde hoje é o quartel...”
Então vê seu cavalo no céu
Da gratidão que nele sobra.
Viu crescer a tradição gaúcha
No CTG Porteira da Encruzilhada Palhocense
Criou no seu canto um recanto
E a outros catarruchos convence
Foi um dos fundadores dos Praianos
E hoje com seus 82 anos
É orgulho da tradição gaúcha catarinense.
Com o Eduardo Comelli, um discípulo
Rubinho, amigo do peito e do laço
O filho Dudu, um companheiro
Que do pai herdou os traços
E não esquecendo as prendas
Assim deixo essa simples oferenda
E a toda família, meu forte abraço.
Publicado em 31/01/2019 - por Beltrano