Beltrano - Edição 644
Pelos bares da cidade
Eu já vi rico ficar pobre
Já vi negro ficar branco
Já vi homem cambaleando
Segurando um barranco
Já vi uma velha senhora
Dormir em cima de banco.
Já vi muito cabra macho
Beber e entrar de sola
Já vi garrafa de pinga
Na boca de rapazola
Triste é ver amigo meu
Beber e virar boiola.
Aconteceu com um amigo
Com o tempo virou mania
Virava um baita boiola
Somente quando bebia
Com o tempo foi gostando
E passou a beber todo dia.
Meu avô, que era da Barra
Não saía do Bar do Alemão
Bebia um copinho cheio
De cachaça com alcatrão
Hoje eu bebo mais que ele
Quando vou lá na Mansão.
Já meu pai nunca gostou
De tomar pinga pura
Quando bebia, comia
Muito torresmo com gordura
Pra pinga descer suave
E ganhar mais gostosura.
Minha mãe, quando bebia
Fazia o maior entrevero
Do meu pai, tinha ciúmes
Por ele ser cachaceiro
Nunca o deixava sozinho
Tomando Velho Barreiro.
Ela tinha uma anomalia
Bebia e soltava pum
Papai também soltava gases
Quando estava bebum
Mas isso só acontecia
Tomando Cinquenta Um.
O meu irmão caçula
Chamavam de "Bafo de Cana"
Começou a beber muito cedo
Lá no meio dos bacanas
Todo dinheiro que ganhava
Gastava no Bar da Brahma.
De mim, ninguém pode falar
Nunca fui muito de beber
Bebo todo dia um pinguinho
Só pra "modi" não esquecer
E assim abrir o apetite
Na hora que vou comer.
Na segunda, nem pensar
Só tomo umas cervejas
Ligo o rádio na São Francisco
Pra ouvir música sertaneja
Mas se bebo, não dirijo
Nem levo a mulher na igreja.
Na terça eu vou na Câmara
Para assistir à sessão
Mas antes, eu encho a cara
Num bar em São Sebastião
Aguentar nossos vereadores
Só muita pinga com limão.
Na quarta, tô de ressaca
Me sentindo um pigmeu
Mas vou encontrar a turma
Que gosta de beber como eu
Acabamos enchendo a cara
No Caranguejão, no Bar do Neu.
Na quinta, estou em pedaços
Então bebo escondidinho
Vou no Supermercado Sul do Rio
Compro uma caixa de vinho
A bebida abençoada
Me deixa quase novinho.
Na sexta, não vou trabalhar
Se não bebo dou um treco
A garganta está seca
E já pede o repeteco
Então vou tomar uns chopinhos
Lá no Bendito Boteco.
O sábado pra mim é sagrado
Então dou uma de ladino
Quando a noite vai chegando
Confesso que perco o tino
A convite do Beto Wagner
Acabo indo pro Divino.
Confesso, me sinto bem
É o melhor lugar do Aririú
Não gosto de beber sozinho
Para não ficar jururu
Peço um cubinha pra mim
E uns cubas pro Piru.
O Piru diz que não bebe mais
Porque não tem mais idade
Mas quando eu vou visitá-lo
Ele volta à mocidade
Me acompanha dia e noite
Pelos bares da cidade.
As nossas esposas, coitadas
Custam a pegar no sono,
Nos esperam até chegarmos
Entregues ao nosso abandono,
Porque sempre ouviram dizer:
Que cu de bêbado não tem dono.
O Beltrano também bebe
Mas só em ocasião oportuna
Quando lhe falta inspiração
Pra fazer esta coluna
Bebeu tanto no passado
Que fechou o Corredor e o Baraúna.
"Eita trem bom", diz o Piru:
"Tudo que se bebe se mija
Mas deixo aqui um conselho
Pra quem for encher a botija
Se for dirigir não beba
E se for beber não dirija".
Publicado em 21/06/2018 - por Beltrano