A Polícia Civil de Palhoça segue investigando os detalhes de um golpe aplicado em pelo menos nove famílias que tentavam alugar um apartamento no loteamento Nova Palhoça. A reportagem do Palhocense conversou com a delegada regional Beatriz Ribas Dias dos Reis sobre esse e outros golpes que têm acontecido com frequência em Palhoça. Acompanhe os detalhes e veja orientações para tentar evitar cair na rede dos golpistas.
O golpista publicou o anúncio do apartamento para alugar em um site nacional de classificados. Pelo menos nove famílias se interessaram. Elas assinaram o contrato de locação e fizeram pagamentos relativos a um mês de aluguel adiantado, no valor de R$ 1 mil – teve locatário que também pagou mais R$ 1 mil de caução. Poucos dias antes da data marcada para que a família se mudasse para o novo lar (dia 18 de maio), o golpista entrava em contato para avisar que havia vendido o apartamento, que precisava desfazer o contrato de aluguel e devolver o dinheiro recebido antecipadamente. A partir daí, sumia do mapa. “Isso dá mais idoneidade e dá tempo dele fugir da cidade. O cara te procura pra devolver o dinheiro, você nunca pensa em ir na delegacia fazer um boletim de ocorrência”, destaca a delegada.
Como as vítimas não conseguiam mais falar com ele pelo WhatsApp (era pelo aplicativo que a maior parte do contato era feita), algumas foram até o apartamento para tentar localizá-lo, sem sucesso. Além de perder o dinheiro pago adiantado, as famílias lesadas pelo golpista ainda tiveram que se virar para arrumar um novo lar às pressas. “Tinha pessoas com mudança no caminhão. Foi muita sacanagem. Por isso estamos fazendo o que podemos para que isso não fique assim”, conta uma das vítimas, que não vamos identificar, para evitar uma exposição desnecessária. “Teve um casal que teve que voltar pra Caxias do Sul (RS). Estavam aguardando 15 dias pelo apartamento, morando de favor, com a mudança no caminhão. Não tinham pra onde ir e não tinham mais dinheiro pra dar em outro”, relata.
O primeiro passo da investigação da Polícia Civil é ouvir as vítimas. Depois, será ouvido o golpista. “A gente só quer ouvi-lo quando ouvirmos todas essas pessoas, porque aí teremos todos os detalhes. Assim, não precisaremos ouvi-lo de novo, e um eventual pedido de prisão que a gente faça já estaria decretado pra cumprir”, explica a delegada.
A Polícia Civil tenta descobrir se o nome que o golpista apresentava era verdadeiro ou falso (o Instituto Geral de Perícias será acionado para avaliar a documentação localizada); e se ele realmente era dono do apartamento anunciado (o cartório de registro de imóveis já foi oficiado a enviar a documentação necessária). Pelos relatos apresentados no inquérito policial, tudo indica que sim, porém, sem uma confirmação oficial, omitiremos tanto o nome do golpista quanto o endereço do apartamento anunciado no golpe.
As próprias vítimas fizeram uma investigação e descobriram que o homem morava no apartamento há cinco anos. Ele seria funcionário público da Prefeitura de Biguaçu. Na Prefeitura, as vítimas teriam recebido a informação de que ele não aparece para trabalhar há mais de dois meses e estaria sendo aberto um processo administrativo para avaliar a conduta do funcionário. Descobriram, também, que o golpista é casado com uma funcionária pública que trabalha em Joinville desde janeiro, e por isso ele estaria se mudando para lá (motivo pelo qual estaria alugando o apartamento no Nova Palhoça). A suposta esposa, no entanto, teria alegado que eles estão separados desde janeiro.
São informações colhidas nos depoimentos, e a Polícia Civil trabalha para checá-las. Por enquanto, o que fica, de certeza, é a necessidade de, cada vez mais, nos cercarmos de todos os cuidados antes de fecharmos um negócio. “Nossa preocupação é alertar as pessoas, para que tomem as precauções necessárias, porque hoje o número de fraudes é muito grande”, relata a delegada.
Driblando os golpes
Orientações da Polícia Civil
Aluguel de imóveis
Dê preferência a uma imobiliária devidamente registrada. Se preferir negociar via redes sociais, redobre os cuidados.
Confira se o anunciante é realmente o proprietário do imóvel, através de consulta ao cartório de registro de imóveis.
Registre o contrato e os recibos de pagamento em cartório. Isso vai ajudar a Polícia Civil a identificar e a localizar um eventual golpista (no caso narrado, nenhum contrato ou recibo foi registrado em cartório e nenhuma consulta foi feita sobre a matrícula do imóvel). “Se eles tivessem ido até o cartório para fazer o reconhecimento dessa assinatura, nós teríamos pelo menos a imagem dessa pessoa, porque o cartório hoje é obrigado: quando você vai à presença do cartório, além da ficha de assinatura - ali a pessoa assina, então temos outra assinatura para conferir, para ver se é dela mesmo ou não -, os cartórios têm tido a praxe de ter uma webcam que filma este momento”, observa a delegada Beatriz Ribas.
Desconfie de preços muito abaixo dos praticados pelo mercado (isso vale para qualquer transação).
Desconfie de condições muito favoráveis de contrato (no caso narrado, o proprietário dizia que não haveria cobrança de água e luz; estava “embutida” no valor do aluguel). “O que a gente vê é que as pessoas acham alugueis milagrosos: quando é uma oferta muito boa, desconfie, não existe milagre”, alerta a delegada. “Quando o proprietário vai arcar com as despesas de luz e água? Isso não existe”, acrescenta.
Nunca pague adiantamento em dinheiro, prefira depósito em conta bancária (que a polícia poderá rastrear em caso de golpe), cheque ou nota promissória. Ainda mais em se tratando da caução, que é apenas uma garantia futura, e não um pagamento à vista. “Geralmente, caução serve para quê? Talvez as pessoas não saibam: se você deixa de pagar o aluguel, se houver algum dano no imóvel, quando você for desocupar, aquilo vai cobrir eventual despesa. O ideal é que seja feito por nota promissória ou por cheque, que possa sustar. Não pode ser em dinheiro. O caução não pode ser um pagamento adiantado, e as pessoas estão usando o caução para receber à vista um dinheiro que seria uma garantia para o futuro”, retrata a delegada.
Caso efetue depósito bancário, desconfie se o nome do correntista é diferente do nome da pessoa com quem está negociando. “Não se contrata com um e se deposita em favor do outro. A primeira suspeita que tem que se levantar: se estou negociando com você, por que você não está fornecendo seus dados pessoais para fazer o depósito?”, adverte a delegada Beatriz.
Consiga uma imagem de golpista e de seu documento de identidade.
No local de visitação, procure estar acompanhado de mais alguém.
Verificar se há de fato uma pessoa morando no imóvel e se esta pessoa está ciente de que vai ter que sair do imóvel.
Automóveis
Se for comprar veículo anunciado em sites ou redes sociais, redobre o cuidado.
Não acredite em preços e condições “milagrosas”. “Tudo o que é muito abaixo do valor de mercado, desconfie, traga a placa para a gente checar se não tem nenhuma restrição; traz o documento para a gente checar se é verdadeiro ou de algum lote roubado do Detran, isso tem sido bem comum também”, relata a delegada Beatriz.
Carros apreendidos
Outro golpe que tem sido comum em Palhoça: uma pessoa, que se identifica como funcionária do Detran ou da Polícia Civil entra em contato pelo WhatsApp avisando que seu carro está apreendido e que pode ajudar na liberação. “Nenhum funcionário da delegacia faz contato por WhatsApp”, garante a delegada.
Em Palhoça, a pessoa se passava por funcionário do “setor de liberação de veículos”. “Nem existe esse cargo. Nós temos um policial responsável pela liberação de veículos apreendidos, mas não existe um setor de liberação de veículos”, alerta.
Nas mensagens, geralmente cheias de erros de Português, o golpista diz que o veículo da vítima estava apreendido e que ela precisava pagar uma certa quantia para liberar. A vítima, então, fazia o depósito em favor de pessoa física e o carro era liberado. “Outra coisa que não existe: não existe depósito em favor de pessoa física de policial civil”, comenta. “Os pagamentos são feitos via guia ou boleto.”
Na foto que aparece no WhatsApp de um golpista, ele aparecia vestindo uma espécie de uniforme preto (como o da Polícia Civil) e estava sentado à mesa em um cenário bem parecido com o de uma repartição pública. Parecia verossímil, mas era montagem.
É importante ressaltar que o carro só fica apreendido na Polícia Civil se estiver envolvido em inquérito policial; se for medida administrativa, como multa de trânsito, falta de licenciamento, estacionamento em local proibido, etc., nem vai para a delegacia, vai para o pátio de uma empresa terceirizada. No caso de Palhoça, vai para o Resgata Imediato, que ganhou licitação recentemente e fica às margens da BR-282. Para liberar o carro, o proprietário vai direto lá, não tem nada a ver com a delegacia. “Ela só vai ter liberação de veículo através da delegacia se o veículo estiver apreendido em qualquer condução criminal, num inquérito, num flagrante, qualquer situação onde houve condução e houve procedimento policial”, informa a delegada. Mesmo neste caso, não é preciso pagar nada, o período em que o carro ficar no pátio da polícia não gera custo nenhum.
Outra linha de atuação dos supostos “funcionários” do Detran: retirada de multas e venda de CNHs. Não caia nessa, é fraude!